Jeffrey Sachs alerta para caos político nos EUA e prevê colapso nas relações com a China

247 – O economista norte-americano Jeffrey Sachs fez duras críticas à política externa e interna dos Estados Unidos em entrevista publicada no Times of India. O vídeo, que já repercute globalmente, traz uma análise contundente sobre o estado atual da democracia nos EUA, a hegemonia das grandes corporações e as consequências desastrosas da política de tarifas comerciais imposta pelo presidente Donald Trump em seu segundo mandato.

“Não acredito que haverá qualquer grande acordo entre Estados Unidos e China por muitos anos”, afirmou Sachs. Segundo ele, o governo norte-americano é hoje incapaz de manter relações diplomáticas estáveis. “A administração dos EUA é instável demais para algo desse tipo. Qualquer acordo sério requer consideração e estratégia. Não acredito que haja qualquer uma dessas coisas em Washington hoje”, disse.

Tarifa, caos e isolamento global

Sachs criticou duramente as novas tarifas comerciais impostas por Trump, argumentando que elas não apenas isolaram os EUA economicamente, mas também desestabilizaram os mercados. “Trump está unindo o mundo – contra os Estados Unidos. Não há um único lugar no mundo satisfeito com esse novo regime tarifário, nem mesmo dentro dos EUA”, declarou. Ele apontou que as medidas afetaram negativamente o mercado acionário e, em especial, o setor automobilístico, cujas ações caíram cerca de 5% após o anúncio das tarifas.

Elon Musk como símbolo de degradação política

Um dos trechos mais fortes da entrevista é a comparação entre Elon Musk e um “primeiro-ministro informal” dos EUA. “Musk é uma caricatura do sistema político americano degenerado. É o homem mais rico do mundo, financia campanhas e ameaça parlamentares dizendo que financiará adversários contra eles se saírem da linha”, denunciou Sachs. Ele vê na ascensão de figuras como Musk a consolidação de um sistema de “pay-for-play” – no qual doações de campanha se convertem diretamente em políticas públicas.

Sistema político corroído e militarismo desenfreado

Segundo o economista, os EUA deixaram de ter um sistema político funcional há pelo menos 30 anos. “Nos tornamos um Estado de segurança nacional desde 1947, com a criação da CIA e do aparato de defesa. A CIA participou de cerca de cem operações de mudança de regime desde então”, revelou Sachs. Ele cita o caso do ex-presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, sequestrado pela CIA, como exemplo de ações obscuras que sequer são noticiadas adequadamente pela mídia tradicional.

O domínio do “complexo industrial-militar”, segundo Sachs, impede qualquer política externa responsável. “Não se pode conduzir uma democracia e um Estado de segurança da mesma forma”, disse, referindo-se às operações militares sem aprovação do Congresso, como os recentes ataques aos Houthis, que mataram dezenas de civis.

Falência fiscal e destruição do Estado civil

Sachs também alertou para a falência fiscal dos EUA, causada por décadas de cortes de impostos e gastos militares elevados. “Nosso déficit gira em torno de 6% a 7% do PIB. A dívida está em 100% do PIB e deve chegar a 155% até 2055”, destacou, citando relatório recente do Congressional Budget Office. Ele afirmou que Trump pretende aprofundar essa crise ao manter cortes de impostos para os ricos e cortar serviços públicos, em especial saúde e infraestrutura, “destruindo o governo civil”.

A guerra cultural e o futuro sombrio

Para Sachs, os EUA vivem uma espécie de “revolução cultural”, em que políticas públicas são substituídas por “guerras culturais” e a destruição deliberada de instituições. Ele alerta: “Nada do que está sendo feito vai melhorar a vida das pessoas. Estamos caminhando para um país muito infeliz, um governo muito impopular e uma população em sofrimento”.

Com uma análise lúcida e contundente, Jeffrey Sachs denuncia não apenas os erros de um governo, mas o colapso de um modelo político e econômico. Sua mensagem é clara: sem reformas profundas, os Estados Unidos seguirão mergulhados em crises internas, isolados globalmente e incapazes de enfrentar desafios reais como a desigualdade, as mudanças climáticas e a concorrência com potências como a China. Assista: