JP Morgan alertou EUA sobre US$ 1 bi em transações ligadas a Jeffrey Epstein
Banco identificou milhares de movimentações suspeitas possivelmente associadas a tráfico humano e as reportou ao governo norte-americano
247 - O JP Morgan Chase, maior banco dos Estados Unidos, alertou autoridades federais sobre transações que somavam mais de US$ 1 bilhão e estavam potencialmente ligadas a Jeffrey Epstein, segundo documentos tornados públicos na quinta-feira (31). As informações foram divulgadas originalmente pelo The Guardian, com base em registros judiciais antes mantidos sob sigilo.
De acordo com o New York Times, que também teve acesso aos arquivos, o JP Morgan apresentou um Relatório de Atividade Suspeita (SAR) em 2019, semanas após Epstein ser encontrado morto em uma cela em Nova York. O documento descreve cerca de 4,7 mil transações que poderiam estar relacionadas a relatos de tráfico humano envolvendo o financista, além de transferências bancárias para instituições russas.
Transações e nomes citados no relatório
O relatório indicava ainda “sensibilidades” nas conexões de Epstein com dois ex-presidentes dos Estados Unidos, sem citar nomes. Entre as movimentações identificadas, constavam operações com Leon Black, cofundador da Apollo Global Management; o gestor de fundos Glenn Dubin; o advogado Alan Dershowitz; e fundos vinculados ao bilionário Leslie Wexner, fundador da cadeia de varejo Victoria’s Secret.
Segundo os documentos, cerca de US$ 65 milhões circularam entre bancos ligados aos fundos de Wexner desde meados dos anos 2000. Não há detalhes sobre as transações envolvendo Black, Dubin ou Dershowitz. Nenhum deles foi acusado de crime relacionado a Epstein.
Reações e contexto judicial
A relação de 15 anos entre Epstein e o JP Morgan, que se estendeu de meados dos anos 1990 até 2013, tornou-se alvo de intenso escrutínio legal e político. Os novos arquivos fazem parte de um processo aberto em 2023 pelo governo das Ilhas Virgens Americanas, onde Epstein possuía uma ilha privada e movimentava grande parte de seus ativos. O banco encerrou o caso por meio de acordo, sem admitir culpa.
A porta-voz do JP Morgan, Patricia Wexler, afirmou que a divulgação dos SARs comprova que a instituição alertou reguladores sobre as suspeitas:
“Os relatórios confirmam o que já se inferia: o banco apresentou comunicações sobre Epstein desde cedo, inclusive quando encerrou sua conta em 2013 – e continuou a fazê-lo repetidamente entre 2013 e 2019, conforme exigido”, disse Wexler.
“Não parece que ninguém no governo ou na polícia tenha agido com base nesses alertas por anos.”
Representantes de alguns dos citados também se manifestaram. Devon Spurgeon, porta-voz de Glenn Dubin, disse que “as transações em questão não tinham qualquer relação com os crimes de Epstein”. Já Alan Dershowitz, advogado que defendeu o financista, afirmou que “os únicos pagamentos recebidos foram referentes a serviços jurídicos prestados”. Um representante de Leon Black preferiu não comentar, enquanto Leslie Wexner não respondeu aos contatos do The Guardian.
Os relatórios reforçam o histórico de inação das autoridades diante de alertas sobre Epstein, que durante anos manteve conexões com figuras influentes do setor financeiro, político e acadêmico antes de ser detido por crimes sexuais e tráfico de menores.



