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Os paladinos do Ocidente

A decisão de encerrar o conflito na Ucrânia, eliminando todas as suas causas primárias, cabe, antes de tudo, à OTAN sob comando norte-americano

Trump se reúne com Zelenskiy e líderes europeus na Casa Branca - 18/08/2025 (Foto: REUTERS/Alexander Drago)

Por Manlio Dinucci, TV Byoblu (*) - Embora não tenha sido ele diretamente quem provocou a guerra entre Rússia e Ucrânia — preparada e consolidada através da OTAN pelas administrações Obama e Biden — Donald Trump, na condição de presidente dos Estados Unidos, está no comando da Aliança Atlântica. Isso é confirmado pelo fato de que o Comandante Supremo Aliado na Europa é sempre nomeado pelo presidente dos EUA, assim como outros cargos-chave. A decisão de encerrar o conflito, eliminando (como pede Putin) todas as suas causas primárias, cabe, portanto, antes de tudo à OTAN sob comando norte-americano.

Na coletiva de imprensa realizada após o encontro Trump-Putin no Alasca, emergiram duas visões distintas sobre a situação internacional. O presidente russo, Vladimir Putin, reiterou que, para pôr fim à guerra na Europa, “é necessário eliminar todas as causas primárias do conflito, levar em consideração todas as legítimas preocupações da Rússia e restabelecer um justo equilíbrio de segurança na Europa e no mundo como um todo”, garantindo, nesse contexto, também a segurança da Ucrânia. O presidente dos EUA, Donald Trump, foi vago sobre o tema. Disse: “Em breve chamarei a OTAN, chamarei diversas pessoas que considero apropriadas e, naturalmente, chamarei o presidente Zelensky porque, no fim, é deles a decisão”.

Ele ignora o fato de que, mesmo não sendo diretamente o responsável por deflagrar a guerra — arquitetada e posta em prática através da OTAN pelas administrações Obama e Biden —, Donald Trump, enquanto presidente dos EUA, ocupa a chefia da aliança militar. O confirma o fato de que o Comandante Supremo Aliado na Europa é sempre designado pelo presidente norte-americano, assim como outros postos estratégicos. A decisão de encerrar o conflito eliminando todas as suas causas primárias, como pede Putin, cabe antes de tudo à OTAN sob comando dos EUA.

A OTAN, no entanto, segue alimentando a guerra. Os Estados Unidos continuam fornecendo armas à Ucrânia para serem usadas contra a Rússia, não diretamente, mas por meio dos aliados europeus, que as compram (com ônus para os cidadãos europeus) das indústrias bélicas norte-americanas e as transferem a Kiev. Esses mesmos aliados europeus estão prontos a enviar tropas à Ucrânia, nas fronteiras com a Rússia, caso se chegue a uma trégua, enquanto os EUA deslocariam uma força aérea composta também por bombardeiros nucleares de ataque. Embora não faça parte oficialmente da OTAN, a Ucrânia passaria a ter dos Estados Unidos e de seus aliados europeus “garantias de segurança modeladas no artigo 5º da OTAN, que obriga os membros a defender um aliado atacado”.

Ao mesmo tempo, a administração Trump utiliza tarifas alfandegárias e outros instrumentos (entre eles a acusação de violações de direitos humanos) para atacar países relevantes do BRICS: África do Sul, Brasil, Índia e outros que compõem o bloco ao lado de Rússia e China. Trump está enviando forças militares também para a América Latina, oficialmente para combater cartéis de drogas, mas, na prática, com o objetivo de desestabilizar países como a Venezuela, que os EUA não conseguem colocar sob sua influência. No Oriente Médio, Trump apoia política e militarmente Israel, tendo como principal alvo o Irã.

A transferência de Israel do Comando Europeu dos EUA para o Comando Central norte-americano, promovida pela administração Trump em 2021, integrou Tel Aviv à aliança dos EUA com os parceiros do Golfo e facilitou a cooperação entre Washington e Jerusalém nos ataques contra instalações nucleares iranianas em junho de 2025.

(*) Resumo da revista de imprensa Grandangolo Pangea de sexta-feira, 22 de agosto de 2025, no canal de TV Byoblu. Tradução do italiano ao francês por Marie-Ange Patricio e do francês ao português pela Redação do Brasil 247

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