Trégua da guerra tarifária de Trump se aproxima do fim e expõe fragilidade e isolamento dos EUA
Pausa de 90 dias não rendeu acordos, fez Trump recuar diante da China e irritou antigos aliados, avalia o analista Arnaud Bertrand
247 - A postagem do analista de geopolítica Arnaud Bertrand, publicada na rede X, revela o balanço dos 90 dias de pausa anunciados em 9 de abril pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para implantação das chamadas tarifas do “Dia da Libertação”. À época, Trump alardeou que outros países estariam “morrendo de vontade de fechar acordo” e fariam “qualquer coisa”, inclusive “beijar sua bunda”, para evitar as sobretaxas.
Três meses depois, na véspera do prazo final, o resultado é o oposto do prometido:
Nenhum acordo de fato – Segundo Bertrand, não houve um único tratado comercial completo. O governo norte-americano celebrou apenas três “acordos-quadro” com China, Reino Unido e Vietnã. Mesmo nesses casos, Washington não negociou a partir de posição de força – exceção feita, talvez, aos britânicos. O entendimento com Pequim, o mais relevante, só ocorreu depois de a China retaliar com a suspensão das exportações de terras-raras, o que gerou dano econômico real e obrigou os EUA a aceitar um arranjo que manteve os embarques chineses e reduziu tarifas norte-americanas.
Admissão interna de fracasso – O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, confessou que “muitos desses países nem sequer entraram em contato conosco”. A frase expõe o abismo entre a retórica de abril e a realidade atual.
Hostilidade entre aliados – Fora o Reino Unido, não houve avanços com parceiros tradicionais. Pelo contrário: a estratégia provocou irritação. O ministro das Finanças do Japão chegou a ameaçar, pela primeira vez e em rede nacional, vender títulos do Tesouro norte-americano como arma de guerra econômica.
Na avaliação de Bertrand, longe de demonstrar a supremacia econômica dos EUA, as tarifas revelaram fragilidade. “Em vez de países implorando misericórdia, a maioria simplesmente o ignorou”, resume. A China fez Trump piscar primeiro, aliados se sentiram atacados e o governo norte-americano acabou isolado no terreno comercial – cenário distante daquele em que outros países estariam, como disse o próprio presidente, “beijando sua bunda” para negociar.


