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Trump tenta, sem sucesso, interferir no Brasil e países mundo afora

Presidente dos EUA defende aliados em Israel, França, Colômbia e Brasil, mas pressões não surtem efeito

Donald Trump (Foto: Christopher Furlong/Pool via REUTERS)

247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem adotado uma estratégia de interferência em processos judiciais de outros países na tentativa de beneficiar aliados políticos. Nos últimos meses, além de se posicionar a favor da absolvição de Jair Bolsonaro (PL) - réu por tentativa de golpe de Estado -, ele também interveio em defesa do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, da líder da ultradireita francesa Marine Le Pen e do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, todos envolvidos em casos de corrupção ou desvio de recursos, relata a Folha de S. Paulo.

Trump tem repetido uma narrativa já usada em sua própria defesa, alegando que seus aliados no exterior são vítimas de perseguição promovida por sistemas judiciais “aparelhados”. O líder americano foi condenado em 2024 por falsificação de documentos relacionados a um pagamento para silenciar a atriz pornô Stormy Daniels sobre um suposto caso extraconjugal. Desde então, ele passou a usar o termo “caça às bruxas” para se referir tanto a seus processos quanto aos que atingem políticos de sua rede de influência.

Pressões sem resultado

Em junho deste ano, Trump afirmou que o julgamento de Netanyahu deveria ser “cancelado imediatamente” e chegou a insinuar cortes na ajuda militar a Israel. “É uma insanidade o que os promotores descontrolados estão fazendo com Bibi Netanyahu”, declarou. No entanto, no dia seguinte, a Justiça israelense negou o pedido de adiamento do depoimento do premiê, acusado desde 2019 de suborno, fraude e quebra de confiança. Netanyahu nega as acusações, e o julgamento prossegue nesta semana.

Na França, Trump também saiu em defesa de Marine Le Pen, condenada em abril por desviar recursos da União Europeia e impedida de disputar a eleição presidencial de 2027. “A caça às bruxas contra Marine Le Pen é mais um exemplo de esquerdistas europeus usando a guerra jurídica para silenciar a liberdade de expressão e censurar oponentes políticos”, escreveu o presidente americano, afirmando que o caso segue o mesmo “manual” usado contra ele.

Na Colômbia, embora Trump não tenha se manifestado diretamente, seu secretário de Estado, Marco Rubio, atacou o Judiciário após a condenação de Álvaro Uribe. O ex-presidente colombiano recebeu pena de 12 anos de prisão domiciliar por corrupção de testemunhas e fraude processual, mas obteve decisão liminar que lhe permite recorrer em liberdade.

Impactos na política internacional

O alcance da chamada “diplomacia do espelho” de Trump também se estende ao cenário eleitoral. O único êxito significativo ocorreu na Polônia, onde o conservador Karol Nawrocki venceu a eleição presidencial com apoio explícito do líder americano. Já em outros países, como Canadá, Austrália e Romênia, candidatos identificados com o trumpismo sofreram derrotas diante de adversários centristas.

No Canadá, o liberal Mark Carney se tornou primeiro-ministro após reação às ameaças de Trump de intensificar a guerra comercial com Ottawa e até de anexar o país. Na Austrália, o trabalhista Anthony Albanese derrotou o candidato “MAGA” Peter Dutton. Já na Romênia, o centrista Nicușor Dan venceu o radical George Simion, que teve sua contestação judicial rejeitada.

Reflexos no Brasil e perspectivas para 2026

No caso brasileiro, analistas do Planalto avaliam que a ofensiva de Trump em defesa de Jair Bolsonaro se insere em uma estratégia mais ampla de tentar garantir um candidato alinhado ao trumpismo nas eleições de 2026. A interferência americana deve persistir até os dois turnos do pleito, com possibilidade de nova campanha para deslegitimar o resultado das urnas em caso de derrota, cenário semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos em 2020 e no Brasil em 2022.

Assim, embora Trump mantenha postura combativa em defesa de aliados no exterior, seus esforços têm esbarrado na autonomia dos sistemas judiciais e na força de adversários políticos, revelando os limites da influência direta da Casa Branca em disputas internas de outros países.

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