HOME > Mundo

Ucrânia rejeita termos centrais de plano de paz elaborado pelo governo Trump

O documento previa que Kiev renunciasse a territórios sob seu controle

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, D.C., EUA - 17/10/2025 (Foto: REUTERS/Jonathan Ernst)

247 - A Ucrânia refutou a versão de que teria aceitado os principais termos de um plano de paz apresentado pelos Estados Unidos sob a administração Donald Trump. A informação foi reforçada nesta sexta-feira (21) por Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional do país, após declarações de autoridades norte-americanas. As informações são da Reuters. 

Segundo autoridades dos EUA, o esboço de 28 pontos havia sido elaborado após conversas com Umerov — ex-ministro da Defesa e aliado próximo do presidente Volodymyr Zelensky — e incluía concessões significativas à Rússia. O documento previa que Kiev renunciasse a territórios sob seu controle, reduzisse substancialmente o tamanho de suas Forças Armadas e desistisse, de forma permanente, de integrar a Otan.“Este plano foi elaborado imediatamente após discussões com um dos membros mais graduados da administração do presidente Zelensky, Rustem Umerov, que concordou com a maior parte do plano, depois de fazer várias modificações, e o apresentou ao presidente Zelensky”, afirmou uma autoridade sênior americana na quinta-feira (20).

A declaração foi contestada diretamente por Umerov, que afirmou não ter discutido, avaliado ou aprovado qualquer ponto do documento.

 “Durante minha visita aos Estados Unidos, meu papel foi técnico — organizar reuniões e preparar o diálogo. Não fiz nenhuma avaliação ou, muito menos, aprovação de nenhum ponto. Isso não está dentro de minha autoridade e não corresponde ao procedimento”, escreveu ele no Telegram.Zelensky reconheceu ter recebido o plano, mas evitou comentar seu conteúdo. No entanto, indicou que a proposta será analisada conjuntamente: “Nossas equipes — Ucrânia e EUA — trabalharão nos pontos do plano para acabar com a guerra. Estamos prontos para um trabalho construtivo, honesto e rápido.”Um plano que Kiev já havia rejeitado antes

O documento examinado pela Reuters inclui condições que a Ucrânia tem descartado desde o início da guerra, classificando-as como equivalentes à rendição. Além de recuar das regiões que ainda controla no leste — áreas que Moscou afirma ter anexado — Kiev teria suas Forças Armadas limitadas a 600 mil soldados e ficaria impedida de ingressar na Otan. Em contrapartida, a Rússia devolveria pequenas porções de território tomadas em outras frentes.

O plano prevê ainda a suspensão gradual de sanções, o retorno da Rússia ao G8 e o uso de ativos russos congelados em um fundo de investimento administrado pelos EUA.Em relação às demandas centrais da Ucrânia, como garantias de segurança robustas que impeçam novas ofensivas russas, o texto dedica apenas uma linha, sem detalhamento: “A Ucrânia receberá garantias robustas de segurança”.Europa fora da mesa

A proposta foi elaborada sem a participação de países europeus, que hoje sustentam grande parte do esforço de defesa ucraniano após Trump cortar o financiamento americano. Diplomatas europeus aguardam ser informados formalmente sobre os termos ainda nesta sexta-feira.

 “Quanto ao plano de paz que entendemos ter sido apresentado ao presidente Zelensky, sempre dissemos que, para que qualquer plano funcione, ele precisa ter a Ucrânia e os europeus a bordo”, declarou a chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, em Bruxelas.

Moscou monitora à distância


O Kremlin afirmou não ter sido comunicado sobre qualquer disposição de Kiev para negociar com base no esboço elaborado pelo governo americano. A Rússia tem adotado uma postura cautelosa em público, mas costuma reiterar que considera indispensáveis concessões territoriais que a Ucrânia afirma não estar disposta a fazer.Enquanto isso, a guerra segue em ritmo intenso. Nesta sexta-feira, novos ataques russos deixaram mortos e feridos em cidades do interior ucraniano, cenário que reforça a urgência — e a dificuldade — de qualquer negociação realista de paz.

Artigos Relacionados