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Zelensky indica disposição para negociar plano dos EUA que impõe concessões à Ucrânia

Proposta norte-americana prevê que Kiev abra mão do Donbas e reduza suas Forças Armadas

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, D.C., EUA - 17/10/2025 (Foto: REUTERS/Jonathan Ernst)

247 – O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou estar pronto para um trabalho “honesto” e “construtivo” com Washington sobre um plano norte-americano destinado a encerrar a guerra iniciada pela Rússia. A declaração foi feita após encontro, em Kiev, com o secretário do Exército dos Estados Unidos, Daniel Driscoll. As informações são da agência Reuters.

De acordo com documentos obtidos pela Reuters, o plano apoiado pelos Estados Unidos impõe concessões profundas à Ucrânia, como a entrega de todo o Donbas e uma redução significativa do contingente militar. A proposta provocou reação imediata entre aliados europeus, que alertaram que uma “paz” não pode significar rendição.

Proposta impõe limites militares e reconhece territórios ocupados

O plano, com 28 pontos, determina que a Ucrânia reconheça como de facto russos os territórios da Crimeia, Luhansk e Donetsk. Prevê ainda a retirada de forças ucranianas de áreas do Donetsk atualmente sob controle de Kiev.

Outro ponto central é a limitação das Forças Armadas ucranianas a 600 mil soldados. Em troca, o país receberia “garantias robustas de segurança”, sem detalhes sobre sua implementação.

Um alto funcionário de Washington declarou à Reuters que a proposta “foi elaborada imediatamente após discussões com um dos mais altos integrantes da administração do presidente Zelensky, Rustem Umerov, que concordou com grande parte do plano após algumas modificações”.

Zelensky pede “trabalho honesto” e aguarda conversa com o presidente Trump

Em mensagem publicada no Telegram, Zelensky afirmou que “as equipes — Ucrânia e EUA — trabalharão nos pontos do plano para acabar com a guerra” e que seu governo está pronto para atuar de forma “construtiva, honesta e rápida”. O gabinete presidencial destacou que o líder ucraniano apresentou aos norte-americanos os princípios considerados essenciais pelo país.

A Presidência também informou que Zelensky espera discutir diretamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as possibilidades diplomáticas e os pontos-chave para alcançar a paz.

Plano inclui acordo de não agressão e limites à OTAN

A versão do documento vista pela Reuters prevê um acordo de não agressão envolvendo Rússia, Ucrânia e Europa, e impede que a OTAN amplie sua presença para incluir Kiev ou posicione tropas no território ucraniano.

O texto menciona ainda a reintegração da Rússia à economia global, com flexibilização gradual das sanções, sua volta ao G8 e um acordo bilateral entre Rússia e Estados Unidos sobre energia, recursos naturais, infraestrutura, inteligência artificial, data centers e mineração de metais raros no Ártico.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o secretário de Estado Marco Rubio e o enviado especial Steve Witkoff trabalham “há cerca de um mês” na proposta, com apoio do presidente Donald Trump. Segundo ela, “o plano foi elaborado para refletir as realidades da situação, após cinco anos de uma guerra devastadora, e buscar o melhor cenário em que ambas as partes ganhem mais do que cedem”.

Europa reage: “paz não pode ser capitulação”

Em Bruxelas, ministros das Relações Exteriores da União Europeia evitaram comentar detalhes, mas rejeitaram abertamente qualquer exigência que obrigue Kiev a fazer concessões consideradas punitivas.

O ministro francês Jean-Noel Barrot afirmou: “Ucranianos querem paz — uma paz justa que respeite a soberania de todos, uma paz duradoura que não possa ser questionada por futuras agressões. Mas paz não pode ser uma capitulação”.

Zelensky recebeu o documento de Driscoll somente na quinta-feira, segundo seu gabinete. Fontes ouvidas pela Reuters afirmam que o plano resulta de conversas paralelas entre Witkoff e Kirill Dmitriev, enviado especial do presidente russo Vladimir Putin.

Diplomacia avança enquanto Kiev enfrenta desgaste interno

O coronel Dave Butler, chefe de comunicação do Exército dos EUA, disse que Zelensky concordou em avançar rapidamente para fechar e assinar algum tipo de acordo, ressaltando que Washington quer “um bom plano para o povo ucraniano”.

O impulso diplomático ocorre em um momento de dificuldade para Kiev: as tropas ucranianas enfrentam recuos no campo de batalha, enquanto o governo lida com desgaste político após o Parlamento destituir dois ministros em meio a um escândalo de corrupção.

Rússia minimiza a iniciativa e insiste em suas condições

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que “consultas não estão em andamento”, dizendo que existem apenas “contatos”, mas nada que configure negociações formais. Ele reforçou que qualquer acordo deve abordar “as causas raízes do conflito”, expressão usada por Moscou para justificar suas exigências territoriais.

No mesmo dia, o presidente Vladimir Putin visitou o comando do agrupamento “Oeste”, onde foi informado pelo chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, de que as forças russas teriam assumido o controle de Kupiansk — afirmação negada pela Ucrânia.

Situação no front segue incerta

Com o inverno no horizonte, as tropas russas controlam cerca de um quinto do território ucraniano e continuam avançando gradualmente. Moscou intensifica ataques contra infraestrutura energética e cidades, agravando a crise humanitária.

A Ucrânia nega que a Rússia tenha tomado Kupiansk ou 70% da cidade de Pokrovsk, apesar de vídeos divulgados pelo Ministério da Defesa russo mostrarem soldados patrulhando áreas destruídas no sul do município.

A Reuters informa que não conseguiu verificar de forma independente as alegações de nenhum dos lados.

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