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EUA pressionam Ucrânia a ceder território em nova proposta de paz

Plano norte-americano prevê concessões territoriais e redução das Forças Armadas ucranianas

Volodymyr Zelensky e Donald Trump em encontro na Casa Branca - 17/10/2025 (Foto: Reuters)

247 – A Ucrânia enfrenta crescente pressão de Washington para aceitar um novo quadro de paz destinado a encerrar a guerra iniciada pela Rússia há mais de três anos e meio. Segundo reportagem da Reuters, que divulgou os detalhes da proposta nesta quarta-feira (19), autoridades norte-americanas indicaram ao presidente Volodymyr Zelensky que Kiev deve aceitar os principais pontos de um plano que inclui concessões territoriais a Moscou e a redução das capacidades militares do país.

De acordo com duas fontes ouvidas pela agência, que pediram anonimato devido à sensibilidade do tema, a proposta elaborada pelos Estados Unidos também prevê o corte no tamanho das Forças Armadas ucranianas. A Reuters informa que Washington deseja que a Ucrânia aceite a estrutura geral desse acordo, discutido pelos EUA diretamente com a Rússia, sem que Kiev tenha participado da elaboração.

Pressões diplomáticas e crise interna

A revelação ocorre em um momento crítico para o governo ucraniano, que enfrenta avanços russos no leste do país e lida com um escândalo interno que levou, nesta quarta-feira, à destituição dos ministros de Energia e Justiça pelo Parlamento. A tensão política coincide com o esforço de Zelensky para reforçar sua posição no exterior.

A Casa Branca optou por não comentar a proposta. Já o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou na plataforma X que Washington “continuará a desenvolver uma lista de potenciais ideias para encerrar esta guerra com base no que for apresentado por ambos os lados do conflito”. Ele destacou que o fim de um confronto “complexo e mortal” exige “ideias sérias e realistas” e que uma paz duradoura depende de “concessões difíceis, porém necessárias”.

Um alto funcionário ucraniano confirmou à Reuters que Kiev recebeu “sinais” sobre um conjunto de propostas discutidas entre Washington e Moscou, embora a Ucrânia não tenha tomado parte na sua formulação.

Zelensky busca apoio na Turquia e reforça papel dos EUA

Durante visita à Turquia, onde se encontrou com o presidente Tayyip Erdogan, Zelensky evitou mencionar diretamente o plano dos EUA, mas ressaltou a necessidade de coordenação internacional. Em mensagem no Telegram, afirmou:

“O principal para deter o derramamento de sangue e alcançar uma paz duradoura é que trabalhemos em coordenação com todos os nossos parceiros e que a liderança americana permaneça eficaz e forte.”

Zelensky também declarou que apenas os Estados Unidos e o presidente Donald Trump “têm força suficiente para que a guerra finalmente chegue ao fim”.

Segundo o presidente ucraniano, Erdogan apresentou diferentes formatos possíveis para conversações e garantiu que a Turquia está pronta para fornecer uma plataforma para negociações.

A percepção de uma nova iniciativa diplomática impulsionada pelo governo Trump provocou, na quarta-feira, a maior alta em meses nos preços dos títulos da dívida ucraniana.

Sem avanços nas posições de Moscou

Apesar do movimento diplomático, não há sinais de que a Rússia esteja disposta a flexibilizar suas exigências. O presidente Vladimir Putin continua demandando que a Ucrânia abandone seus planos de adesão à OTAN e retire suas tropas das quatro províncias que Moscou reivindica como território russo — condições consideradas inaceitáveis por Kiev.

As forças russas controlam cerca de 19% do território ucraniano e seguem avançando, além de realizar ataques frequentes à infraestrutura energética do país às vésperas do inverno. Não há, até o momento, alteração pública na postura do Kremlin.

Território em troca de garantias de segurança?

Segundo o site Axios, que citou um funcionário americano com conhecimento direto do plano, a proposta dos EUA prevê que a Ucrânia conceda à Rússia partes do leste do país que atualmente não estão sob controle de Moscou. Em troca, os Estados Unidos ofereceriam garantias de segurança para Kiev e para a Europa contra futuras agressões russas.

Para um diplomata europeu ouvido pela Reuters, a iniciativa pode ser mais uma tentativa da administração Trump de “empurrar Kiev para um canto”. Outro diplomata europeu afirmou que a ideia de reduzir o Exército ucraniano soa mais como uma demanda russa do que como uma proposta séria do Ocidente.

Missão militar norte-americana em Kiev

Enquanto as discussões continuam, uma delegação dos EUA chegou a Kiev para uma “missão de apuração de fatos”, segundo a embaixada americana. O grupo é liderado pelo secretário do Exército, Dan Driscoll, e conta também com o chefe do Estado-Maior do Exército, general Randy George. Ambos devem se reunir com Zelensky nesta quinta-feira.

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