União Europeia ameaça taxar Big Techs dos EUA se acordo com Trump não avançar
Presidente da UE diz que bloco não tolerará redirecionamento de tarifas dos EUA e poderá impor tarifa única a gigantes digitais como Google e Meta
247 - A União Europeia está disposta a tomar medidas comerciais contundentes contra empresas digitais dos Estados Unidos, caso fracassem as negociações com o presidente dos EUA, Donald Trump, para encerrar a guerra tarifária entre Washington e Bruxelas. A sinalização foi dada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em entrevista ao jornal Financial Times, publicada nesta semana.
Durante a conversa com o diário britânico, Von der Leyen declarou que o bloco busca um entendimento "completamente equilibrado" com os Estados Unidos, aproveitando a trégua de 90 dias concedida por Trump na aplicação de tarifas adicionais. No entanto, ela foi enfática ao afirmar que, se as conversas fracassarem, a UE está pronta para ampliar a disputa comercial, estendendo-a ao setor de serviços e, em especial, ao mercado digital.
Entre as contramedidas em análise está a criação de uma tarifa comum sobre receitas publicitárias digitais, que afetaria diretamente gigantes como Google, Meta e Facebook — esta última também pertencente à Meta. Diferentemente dos atuais impostos sobre vendas digitais, que são definidos individualmente pelos países do bloco, a proposta envolveria uma aplicação uniforme em todo o mercado único europeu.
“Empresas que oferecem serviços fazem bons negócios neste mercado [da UE]. E a grande maioria dos serviços, 80%, vem dos EUA”, destacou Von der Leyen. Ela ainda afirmou que o presidente norte-americano considera apenas bens tangíveis em suas contas comerciais, ignorando a ampla presença dos serviços exportados por empresas americanas à Europa.
A presidente da Comissão Europeia também rejeitou qualquer revisão das regras da UE sobre conteúdo digital e poder de mercado, classificando-as como “intocáveis”. Tais normas vêm sendo criticadas por autoridades americanas, que as veem como formas disfarçadas de taxação às gigantes da tecnologia dos EUA.
Questionada sobre os impactos de uma possível escalada comercial nas bolsas de valores e no mercado de títulos, Von der Leyen alertou: “Não há vencedores nisso, apenas perdedores”.
Além da possível tarifação sobre o setor digital, o bloco europeu poderá reativar automaticamente as medidas retaliatórias já programadas em resposta às tarifas dos EUA sobre aço e alumínio. Outras contramedidas também estão em avaliação, desta vez mirando o expressivo superávit de serviços dos EUA com a União Europeia.
A líder europeia também mencionou preocupações com os efeitos colaterais de uma guerra comercial global, particularmente quanto ao redirecionamento de produtos chineses sujeitos a tarifas dos EUA para o mercado europeu. “A UE não tolerará isso”, disse ela, acrescentando que Bruxelas aplicará salvaguardas se um novo sistema de monitoramento indicar aumento de importações da China.
Von der Leyen revelou ainda ter tratado do assunto com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em uma ligação recente. Segundo ela, a resposta de Li foi tranquilizadora: “Esse risco não existe, porque eles estimulariam o consumo interno na China”.
A entrevista da presidente da Comissão Europeia ao Financial Times indica uma disposição firme de Bruxelas em defender seus interesses diante do protecionismo crescente do governo Trump, reforçando a tensão entre os dois lados do Atlântico. A eventual imposição de uma tarifa unificada sobre as receitas digitais poderá se tornar um marco no embate entre soberania regulatória e os interesses das big techs norte-americanas.
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