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Zelensky demite ministros após escândalo de US$ 100 milhões no setor de energia

Maior caso de corrupção desde o início da guerra abala o governo ucraniano e ameaça apoio internacional ao país

O Ministro da Energia da Ucrânia, German Galushchenko, participa de um painel de discussão na Cúpula sobre o Futuro da Segurança Energética, organizada pela Agência Internacional de Energia e pelo Governo do Reino Unido na Lancaster House, em Londres, Grã-Bretanha, em 24 de abril de 2025 (Foto: JUSTIN TALLIS/Pool via REUTERS)

KIEV, 12 de novembro (Reuters) - O presidente Volodymyr Zelenskiy pediu nesta quarta-feira a demissão de dois ministros de seu gabinete em meio a uma investigação sobre um suposto esquema de corrupção de US$ 100 milhões envolvendo um ex-associado, o que reacendeu a indignação pública contra o governo de Kiev em tempos de guerra.

As autoridades anticorrupção disseram esta semana que detiveram cinco pessoas e identificaram outras duas ainda foragidas, suspeitas de envolvimento no alegado esquema para controlar as aquisições na agência nuclear Energoatom e em outras empresas estatais.

O maior escândalo de corrupção em tempos de guerra na Ucrânia surge num momento em que as tropas de Kiev, em menor número e com equipamentos insuficientes, lutam para repelir os avanços russos no campo de batalha.

Zelenskiy, cujo antigo sócio dos tempos de comediante está entre os suspeitos, afirmou em um pronunciamento em vídeo que a corrupção no setor energético — já fragilizado pelos frequentes ataques aéreos russos à infraestrutura — era "absolutamente inaceitável".

Pouco depois de suas declarações, a primeira-ministra Yulia Svyrydenko apresentou um pedido ao parlamento para destituir a ministra da Energia, Svitlana Hrynchuk, e o ministro da Justiça, German Galushchenko, antecessor de Hrynchuk no cargo.

Galushchenko não foi identificado como um dos sete suspeitos anunciados esta semana, mas um ex-conselheiro de Galushchenko foi. Ele negou qualquer irregularidade.

A voz de Galushchenko estava entre as ouvidas em uma conversa gravada com alguns dos suspeitos no caso, divulgada pelo Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia, de acordo com uma fonte familiarizada com o assunto.

O ministro não respondeu ao pedido da Reuters por comentários adicionais.

Hrynchuk, que na quarta-feira havia dito que apresentou sua renúncia, negou qualquer irregularidade.

O setor de energia é particularmente vulnerável.

A investigação conduzida pelo órgão anticorrupção NABU, cujos detalhes foram sendo divulgados gradualmente em vídeos bem produzidos com a participação do detetive responsável pelo caso, é a mais recente revelação de supostos casos de corrupção que assolam o governo ucraniano em tempos de guerra.

Demonstrar progresso no combate à corrupção é fundamental para a candidatura de Kiev à adesão à União Europeia, que as autoridades consideram essencial para escapar da influência de Moscou.

As acusações de suborno no setor energético são particularmente sensíveis entre os ucranianos, que enfrentam cortes de energia diários às vésperas do inverno, como resultado dos ataques maciços da Rússia à infraestrutura.

Isso também pode diminuir o entusiasmo entre os doadores que têm fornecido assistência crucial ao setor energético debilitado da Ucrânia.

Em declarações à televisão local, o deputado Serhiy Nahorniak, membro da comissão de energia do parlamento, afirmou já ter sido contactado por doadores que se recusaram a fornecer um transformador para a região de Sumy, na Ucrânia, devastada pela crise.

"Depois de lerem a notícia, disseram: 'Achamos que você pode comprar mais de um transformador'", contou ele ao canal Kyiv24, sem especificar quem eram os doadores.

ÓRGÃOS ANTICORRUPÇÃO INTENSIFICAM A PRESSÃO

No início deste ano, Zelensky tentou limitar os poderes das autoridades anticorrupção da Ucrânia, mas recuou nessas mudanças após raros protestos de rua e indignação dos parceiros europeus.

Opositores políticos o acusaram de tentar sabotar as atividades de órgãos anticorrupção para proteger seus associados, o que Zelensky nega veementemente.

Um dos sete suspeitos identificados pelos promotores é Timur Mindich. Ele é coproprietário do influente estúdio de televisão Kvartal 95, que produziu a popular sitcom que lançou Zelensky à fama como comediante antes de ele iniciar sua carreira política com uma campanha bem-sucedida para presidente em 2019.

Mindich não respondeu imediatamente a um pedido de comentário enviado ao Kvartal 95. Em um comunicado divulgado na quarta-feira, a empresa afirmou ter vínculos legais com Mindich como coproprietário, mas que ele não influenciou o conteúdo da plataforma e que as alegações envolvendo-o não têm relação com as atividades da empresa.

Valeriy Pekar, um intelectual público de destaque, escreveu no Facebook que "uma Caixa de Pandora" foi aberta e que provavelmente revelará ainda mais coisas chocantes.

"As autoridades ainda estão subestimando a dimensão do problema e tentando retardá-lo", disse ele. "Isso é um erro."

Reportagem adicional de Anastasiia Malenko. Edição de Alex Richardson, Peter Graff e Frances Kerry.

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