Embraer estuda novos produtos, mas enfatiza a disciplina financeira, diz presidente
Francisco Gomes Neto afirma que expansão depende do equilíbrio financeiro e da estratégia tecnológica
247 - A Embraer estuda o desenvolvimento de novos produtos que possam sustentar seu crescimento de longo prazo, mas sem comprometer a solidez financeira da companhia. A informação foi dada pelo presidente-executivo da fabricante brasileira de aeronaves, Francisco Gomes Neto, em entrevista à Reuters.
Nos últimos anos, a empresa tem sido associada a planos de ampliar sua linha de jatos comerciais para competir diretamente com gigantes como Boeing e Airbus. No entanto, Gomes Neto destacou que também existe demanda crescente no setor de aviação executiva, especialmente por aeronaves de maior porte. “A gente está olhando, nossos times de inteligência de mercado e de engenharia estão estudando todas as alternativas. Em algum momento, a gente vai escolher que caminho que nós vamos”, declarou o executivo.
Desafios e custos no desenvolvimento de novos modelos
Projetar e lançar novas aeronaves é um processo que demanda altos investimentos — frequentemente na casa dos bilhões de dólares — e leva anos até que um novo modelo chegue ao mercado. Apesar de a Embraer manter o endividamento sob controle, o histórico do setor mostra que o desenvolvimento de novos produtos pode gerar fortes pressões financeiras.
Atualmente, a empresa concentra suas operações no segmento comercial regional, com aeronaves entre 70 e 140 assentos. A linha E2, por exemplo, concorre diretamente com o A220 da Airbus, embora esteja abaixo da faixa das grandes aeronaves de mais de 150 lugares, dominada pela Airbus e pela Boeing.
No segmento de jatos executivos, a Embraer atua nas categorias de aviões muito leves até os supermédios, sendo o Praetor 600, de até 12 passageiros, seu maior modelo. Já concorrentes como a francesa Dassault Aviation oferecem opções de maior porte e alcance.
Estratégia de expansão e foco em tecnologia
Segundo Gomes Neto, as decisões sobre novos projetos dependem de três fatores principais: “do produto que a gente imagina que vai conseguir desenvolver, da estratégia de funding que não coloque em risco a capacidade financeira da companhia e dos clientes”.
O executivo reforçou que os próximos anos serão de investimentos em novas tecnologias e aprofundamento dos estudos sobre quais produtos farão parte da nova geração da empresa. “Nos próximos anos a gente vai concentrar isso, investir em nova tecnologia e amadurecer esses estudos de qual ou quais seriam os novos produtos da Embraer para o futuro”, afirmou, ressaltando que ainda não há prazo definido para a decisão final.
A companhia traçou como meta atingir US$ 10 bilhões em receitas anuais até 2030, impulsionada pela forte demanda de seu portfólio atual. O desempenho vem sendo refletido também no mercado financeiro: as ações da Embraer mais do que quadruplicaram de valor desde o fim de 2023.
Gargalos na cadeia de suprimentos
Outro ponto abordado pelo presidente foi a situação da cadeia global de suprimentos, que tem impactado toda a indústria aeronáutica. Embora a Embraer já tenha garantido as peças necessárias para cumprir as entregas previstas até o fim deste ano, muitos componentes chegaram com atraso, o que concentrará a produção no último trimestre.
“O ano que vem ainda vai ser um ano com alguns desafios na cadeia de suprimentos. Em média ela está melhorando. A gente ainda tem algumas peças específicas que ainda o ano que vem vai ser difícil”, observou Gomes Neto.
Ele também destacou que os problemas anteriores relacionados aos motores Pratt & Whitney GTF, da fabricante RTX, foram “praticamente resolvidos”. “A gente este ano não teve problemas de recebimento de motores GTF para montagem dos aviões, e não estamos antecipando problema para o ano que vem também”, afirmou.


