Líderes acusam Motta de descumprir acordo fechado em jantar na véspera de tumulto na Câmara
O presidente da Câmara havia informado que a sessão de terça-feira votaria pautas da agenda econômica do governo
247 - A tensão que tomou conta do plenário da Câmara após as agressões sofridas pelo deputado Glauber Braga e por jornalistas gerou forte reação entre líderes partidários, que atribuíram ao presidente da Casa, Hugo Motta, a responsabilidade pelo caos institucional. As críticas se concentraram na decisão de Motta de anunciar uma pauta não combinada, movimento que, segundo parlamentares, desencadeou um clima de ruptura entre as bancadas. As informações são do g1.
Os líderes relataram que participaram, na segunda-feira à noite, de um jantar com a presença de Hugo Motta. Nesse encontro, o presidente da Câmara teria informado que a sessão de terça-feira seria dedicada exclusivamente à agenda econômica do governo Lula. A sinalização ocorreu após reunião com os ministros Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, e Fernando Haddad, responsável pela Fazenda.
O clima mudou drasticamente quando, já na terça-feira, Motta colocou em votação o projeto da dosimetria — apontado como benéfico ao ex-presidente Jair Bolsonaro — e os processos de cassação de Glauber Braga e Carla Zambelli. Para os líderes, a guinada de última hora desestabilizou o acordo construído.
Um deles relatou: “Aí fomos surpreendidos pelo anúncio da votação do projeto da dosimetria e das cassações do Glauber e da Zambelli durante a reunião de líderes. Estava tudo certo para votarmos a agenda econômica, aí veio a surpresa da nova pauta e gerou uma grande irritação na Casa, ele não poderia ter feito isso sem acertar com os líderes”.
A reação foi imediata. No microfone do plenário, o líder do PT, Lindbergh Farias, afirmou que Hugo Motta havia perdido as condições de conduzir a Câmara. Parlamentares também criticaram o fato de o presidente pautar simultaneamente os casos de Glauber Braga e de Carla Zambelli, o que o Psol classificou como uma tentativa de “compensação política”.
Lindbergh reforçou sua discordância: “Os casos são totalmente diferentes, não dava para misturar, foi tudo armado com o Centrão e o PL”, embora tenha ressaltado que não apoiava o gesto de protesto de Glauber ao ocupar a cadeira da presidência.
Diante da escalada de tensão, Hugo Motta foi ao plenário para se defender. Em discurso, disse que sua atuação buscou preservar a instituição diante de um ato que classificou como extremista: “A Câmara não se curvará a esse tipo de conduta. Nem hoje, nem nunca. A minha obrigação, como presidente desta Casa, é proteger o Parlamento” e “proteger a democracia”.
A resposta do presidente, no entanto, não conteve as críticas. Deputados governistas apontaram tratamento desigual entre a atuação de Motta no episódio envolvendo Glauber Braga — quando a imprensa foi retirada, o sinal da TV Câmara foi cortado e o parlamentar, assim como jornalistas, foi agredido por seguranças — e a postura adotada frente à ocupação do plenário por deputados do PL em defesa da anistia, resolvida após dois dias de negociações sem uso de força.
Aliados de Motta sustentaram que o presidente não poderia permitir que ocupações da Mesa Diretora se tornassem rotina. Um deles defendia: “O Glauber era apenas um deputado, no caso do motim do PL eram vários, não dava para fazer o mesmo”. Já um adversário rebateu a argumentação e ironizou: “Atitude de covardia. Contra um mostra coragem, contra vários fica com medo”.



