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Alerj discute revogação da prisão de Bacellar enquanto vice se prepara para assumir comando

Apesar da tendência pela revogação, aliados e adversários de Bacellar divergem sobre o futuro imediato do deputado

Rodrigo Bacellar (Foto: Alerj)

247 - A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) inicia, nesta quinta-feira (4), uma ofensiva política para reagir à prisão do presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil). A informação foi revelada pelo jornal O Globo, que ouviu lideranças partidárias de diferentes bancadas. O consenso entre os interlocutores é que há maioria para revogar a ordem de prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira (3).

Apesar da tendência pela revogação, aliados e adversários de Bacellar divergem sobre o futuro imediato do deputado caso seja solto. A decisão de Moraes determinou o “afastamento da presidência” da Alerj, mas não tratou explicitamente da manutenção de sua função parlamentar. A interpretação interna é de que o precedente criado em 2017 — quando Jorge Picciani foi afastado da função de presidente após ser preso — pode novamente prevalecer, levando o vice-presidente da Alerj, Guilherme Delaroli (PL), a assumir o posto de forma interina.

Na ausência de Bacellar, Delaroli já comandou a sessão plenária de quarta-feira (3) e evitou que deputados mencionassem a prisão durante os trabalhos. A notificação formal da Alerj sobre a decisão judicial deve chegar ainda hoje. Depois disso, o regimento prevê prazo de 48 horas para que Bacellar apresente sua defesa à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que precisa emitir parecer antes da votação no plenário.

A decisão final cabe aos 70 deputados estaduais, em votação aberta. Se mantida a prisão, Bacellar será afastado do mandato. Porém, mesmo com eventual revogação, parte das lideranças admite que o STF pode impor novas medidas cautelares, o que deixa em aberto a possibilidade de o deputado não reassumir suas funções políticas de forma plena.

Efeitos políticos e pressão no horizonte

Para o líder do PSB na Alerj, Carlos Minc, a Casa deve convocar nova eleição caso a prisão seja mantida. Segundo ele, o processo pode repercutir negativamente num cenário mais amplo:

— É esperado que a maioria da Assembleia revogue a prisão, mas creio que isso possa ter uma influência contrária aos acusados no julgamento do Ceperj — afirmou Minc, referindo-se ao processo que será retomado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2026. No caso, a relatora já votou pela cassação dos mandatos de Bacellar e do governador Cláudio Castro (PL) por abuso de poder econômico.

Nos bastidores, dirigentes de partidos avaliam que, mesmo com a revogação da prisão, Delaroli poderá se manter como “presidente em exercício” até o fim da atual legislatura, assim como ocorreu com os vices de Picciani em 2017 e 2018.

PL articula novo nome para o comando da Alerj

Ainda que Delaroli seja o substituto natural na linha sucessória, dirigentes do PL consideram que ele “não tem perfil” para comandar a Casa até 2027. O partido trabalha para emplacar o atual secretário estadual de Cidades, Douglas Ruas, como futuro presidente da Alerj. Ruas está licenciado do mandato de deputado estadual e é considerado aposta da legenda para assumir o comando após as eleições de 2026.

Tanto Ruas quanto Delaroli integram o grupo político do deputado federal Altineu Côrtes, presidente estadual do PL e líder de um bloco de influência em São Gonçalo e Itaboraí — cidades administradas pelo pai de Ruas e pelo irmão de Delaroli, respectivamente.

Repercussão no governo Cláudio Castro

A prisão de Bacellar também reacende discussões sobre os próximos passos do governador Cláudio Castro (PL), que pretende disputar uma vaga no Senado em 2026. Para concorrer, Castro precisa renunciar ao governo até abril, o que obrigaria a Alerj a eleger um “governador-tampão” para concluir o mandato.

Segundo membros da base, Castro temia enfrentar um processo conduzido por Rodrigo Bacellar, com quem havia rompido. Caso consiga consolidar um nome de sua confiança na presidência da Alerj, o governador ampliaria sua margem de manobra política.

Entre seus aliados, o nome preferido para assumir o governo-tampão é o do secretário da Casa Civil, Nicola Miccione. Ele também mantém diálogo com o prefeito Eduardo Paes (PSD), provável candidato ao governo do estado em 2026. Paes e Castro vêm costurando um pacto de não agressão para o próximo pleito.

Nos bastidores, Douglas Ruas, favorito do PL para a presidência da Alerj, também mantém boa relação com Paes, o que reforça sua viabilidade num cenário pós-Bacellar.

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