Rodrigo Bacellar agiu para 'manter vínculo' com o Comando Vermelho, de olho em 2026
Documento da PF indica que articulações teriam buscado proteger interesses da facção e manter influência eleitoral mirando a disputa de 2026
247 - A representação que embasou o pedido de prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), detalha como a Polícia Federal avaliou as ações do parlamentar durante as investigações. De acordo com o material divulgado pelo O Globo, os agentes afirmam que Bacellar soube antecipadamente da operação que mirava o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, e adotou medidas para interferir no trabalho policial.
No texto enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF descreve como o deputado teria alertado TH Jóias, orientando-o sobre a retirada de itens de interesse da apuração. Para os investigadores, essa conduta caracteriza uma “ação obstrutiva” e teria como objetivo subjacente preservar relações políticas com o Comando Vermelho, facção que exerce forte domínio territorial no estado.
O documento reproduzido na decisão do ministro Alexandre de Moraes destaca que essa influência “se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha”, referência direta às eleições de 2026. Bacellar foi preso na quarta-feira (3) durante a Operação Unha e Carne, sob suspeita de vazar informações sigilosas e interferir no avanço da Operação Zargun.
As investigações revelam que a facção ampliava seus laços institucionais por meio de articulações políticas. A prisão de TH Jóias, em setembro, já havia exposto parte dessa engrenagem. Entre os detidos na Zargun está Índio do Lixão, apontado como traficante responsável por movimentar R$ 120 milhões em cinco anos e por atuar como braço direito de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, liderança do Comando Vermelho no Complexo do Alemão. Segundo a PF, Índio era uma espécie de tesoureiro da facção e mantinha pagamentos ilícitos a policiais para garantir a proteção de integrantes do grupo.
As mensagens interceptadas mostram que o núcleo político do Comando Vermelho planejava lançar Índio como candidato a vereador em Duque de Caxias. Em uma conversa flagrada pela PF, Dudu, ex-assessor de TH na Alerj, relata ao traficante que discutiu a possível candidatura com o joalheiro e com o ex-subsecretário estadual de Defesa do Consumidor, Alessandro Pitombeira Carracena, também apontado como parte desse núcleo.
Carracena foi preso sob suspeita de receber pagamentos da facção para repassar informações reservadas e atuar em favor dos interesses do grupo utilizando sua rede de contatos públicos. Ele ocupou cargos estratégicos nos governos municipal e estadual, incluindo a Secretaria de Esporte e Lazer na gestão de Cláudio Castro, em 2022, e a Secretaria de Ordem Pública do Rio durante o governo Marcelo Crivella, em 2020.
O superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, afirmou que a participação de Carracena ficou evidente em episódios que ilustram a interferência direta da facção na estrutura estatal. “Há um episódio da investigação que mostra quando uma unidade do Batalhão de Choque foi instalada na Gardênia, comunidade da Zona Oeste do Rio. Essa base atrapalhava o CV. O subsecretário recebeu uma ligação do TH, depois que ele havia falado com o Índio, e fez uma ingerência para retirar o batalhão de lá. Os criminosos conseguiram se infiltrar na polícia e na Assembleia Legislativa. Isso é muito perigoso”, declarou.
TH Jóias, preso em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, é acusado de usar o mandato para favorecer negociações de drogas, armas e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão. A operação que o levou à cadeia foi conduzida pela PF em parceria com o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Rio e a Polícia Civil, no âmbito da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado.
A PF sustenta que o conjunto de ações descritas demonstra uma estratégia da facção para ampliar sua influência política e institucional no estado, com vistas a preservar seu domínio territorial e sua capacidade de atuação.



