Após veto, padre Júlio Lancellotti celebra missa sem transmissão
Celebração presencial reuniu capela lotada, críticas à elite e manifestações de apoio ao padre
247 - A primeira missa celebrada pelo padre Júlio Lancellotti após a proibição da transmissão online foi marcada por forte presença de fiéis, discursos sociais contundentes e manifestações públicas de solidariedade. A celebração ocorreu na manhã de domingo (21), na capela da Universidade São Judas, na Mooca, zona leste de São Paulo, e foi realizada exclusivamente de forma presencial. As informações são da Folha de São Paulo.
Celebração presencial após decisão da Arquidiocese
Durante o momento mais enfático da homilia, Lancellotti,que é conhecido nacionalmente por sua atuação junto à população em situação de rua e a grupos socialmente vulneráveis, afirmou que “não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos vocês, especialmente irmão dos mais pobres, dos abandonados”. A fala foi recebida com aplausos pelo público que lotou a capela.
A decisão que levou ao fim das transmissões semanais partiu do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Os motivos não foram detalhados publicamente. À época, o padre divulgou uma nota mencionando um “período de recolhimento temporário”, enquanto o arcebispo declarou tratar-se de “assunto de um bispo com seu padre”.
Críticas sociais e discurso em defesa dos pobres
No início da celebração, o padre acendeu velas direcionadas simbolicamente a diferentes regiões do mundo. Ao se referir ao Ocidente, classificou-o como “prepotente” e descreveu o norte como espaço dos poderosos, em oposição ao sul. Em seguida, afirmou que “quem não sabe onde é o norte é um desnorteado”.
Ao longo da pregação, Lancellotti abordou a violência contra as mulheres, afirmando que “nesta cidade marcada por feminicídio, Maria é sinal de vida”. Também direcionou críticas à elite paulistana ao dizer que “os lugares mais iluminados de São Paulo” são aqueles onde “não entra Jesus, lá não entram os pobres”, acrescentando que “essas luzes ofuscam e não fazem chegar Jesus”.
Apoio de fiéis e manifestações públicas
A celebração contou com a presença de um grupo de mulheres trans que exibiu um cartaz com a frase “o amor ao próximo não pode ser silenciado”. Uma delas, Rafaella Stephanny da Rocha, 29, afirmou estar presente para ajudar o padre “que me ajuda muito”.
Ao final da missa, o padre repetiu um de seus lemas mais conhecidos: “Força e coragem, ninguém desanime!”. O encerramento foi marcado pela distribuição de flores de papel do movimento Flores pela Democracia, erguidas pelos fiéis durante a despedida.
Leitura de texto em desagravo ao padre
Lancellotti permaneceu em silêncio enquanto Raul Huertas, porta-voz da pastoral da comunicação, leu um texto em sua defesa. “Quando ferem o padre, ferem também nossa paróquia”, afirmou. Em outro trecho, declarou: “Há 40 anos não existiam internet, Instagram, Twitter, hashtags, mas existiam outras regras. Já existiam ódio e a crueldade”.
Huertas também afirmou que há tentativas de caluniar o religioso que “ousa amar o próximo para além do discurso” e acrescentou: “no entanto, podemos afirmar que o seu dia a dia é profundamente humano, pois ele faz exatamente o que Jesus nos pediu”.
Abaixo-assinado e repercussão entre frequentadores
Antes da missa, Elisa Huertas, anunciou um abaixo-assinado em apoio ao padre, que já reunia centenas de assinaturas. Segundo ela, o público presente era significativamente maior que o habitual e que Lancellotti está “bastante abalado, tá chateado, mas muito firme”.



