Bacellar admite conversas com TH Joias e PF aponta troca de mensagens antes de operação
Depoimento revela que houve diálogo prévio entre o presidente da Alerj e o ex-deputado preso por ligação com o Comando Vermelho
247 - A Polícia Federal cumpriu decisão judicial que investiga um possível vazamento de informações sigilosas envolvendo o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar. A apuração busca entender se ele teria beneficiado o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias.
As revelações foram divulgadas neste domingo (7) em reportagem do Fantástico, da TV Globo, que teve acesso exclusivo ao depoimento prestado por Bacellar.
No documento, o presidente da Alerj admite que conversou com TH Joias um dia antes da operação que levou à prisão do ex-parlamentar — suspeita que ele nega estar relacionada a qualquer vazamento. Segundo a PF, Bacellar teria informado o aliado sobre ações policiais iminentes, o que o presidente do Legislativo fluminense refuta.
TH Joias foi preso em setembro, acusado de lavar dinheiro para o Comando Vermelho, negociar armas, adquirir equipamentos antidrones e atuar como braço da facção dentro da Alerj. Um relatório da PF destaca que havia “intensa troca de mensagens” de TH com “contatos estratégicos, incluindo o presidente da Alerj”.
Questionado pelos investigadores, Bacellar afirmou que não conhecia o ex-deputado antes da posse. “Nunca, nunca o tinha visto na vida. Nunca”, disse. Ele insistiu que a relação entre ambos era apenas institucional: “Eu sou presidente do Parlamento. Tenho que atender todos indistintamente.”Apesar disso, mensagens encontradas no celular de TH revelam conversas frequentes e em tom informal. Na véspera da operação que resultou na prisão de TH, ele enviou vídeos mostrando peças de picanha e brincadeiras sobre “roubar a carne”. O contato de Bacellar no telefone do ex-parlamentar estava salvo como “Predestinado”. Em outro momento, TH escreveu: “Fala 01. Estou nesse.” O presidente da Alerj respondeu com figurinhas.No depoimento, Bacellar tentou explicar o teor das conversas: “Eu acho que ele mandou uma coisa que ele quer tirar, uma geladeira, alguma coisa assim. Foi aí que eu o chamei de doido.”Ainda segundo a PF, o ex-parlamentar perguntou diretamente se seria alvo de uma operação. “Você está sabendo de alguma coisa de operação amanhã pra mim?”, teria questionado. Bacellar respondeu que não tinha informação. Imagens anexadas à investigação mostram que, naquela noite, um caminhão retirou objetos da casa de TH Joias.No dia seguinte, por volta das 6h, TH enviou fotos de agentes da PF já dentro de sua residência. Bacellar relatou surpresa ao ver o material: “O cara é maluco, o cara me manda (...) dos policiais lá na casa dele.”Os investigadores também perguntaram por que Bacellar não comunicou nenhuma autoridade ao ser procurado por TH sobre uma possível operação. Ele respondeu: “Não procurei absolutamente ninguém.” E completou: “Não tô aqui pra entregar colega. Não tô aqui para proteger colega também que faz nada errado.”Durante o cumprimento da decisão judicial, os agentes encontraram R$ 90 mil no carro que levava Bacellar à sede da PF. O presidente da Alerj preferiu não detalhar a origem do dinheiro no depoimento: “Vou me reservar o direito de apresentar depois a comprovação.”Bacellar reconheceu ainda ter ouvido rumores sobre o histórico criminal de TH Joias, mas disse que isso não influenciava sua postura institucional. “Ah, o pessoal fala que é ligado a comando, sei lá o quê”, relatou. Ele concluiu: “Da porta pra dentro, se você tiver uma atitude de bom convívio com todo mundo, o que você faz na rua não me diz respeito.”
A defesa de Bacellar nega qualquer tentativa de obstrução ou vazamento de informações. Já os advogados de TH Joias afirmam que não tiveram acesso aos autos do processo.
Com a prisão, Rodrigo Bacellar se tornou o quinto presidente da história da Alerj a ser detido. O futuro político do parlamentar será decidido pela própria Assembleia. A Comissão de Constituição e Justiça avalia nesta segunda-feira (8) se mantém a prisão — etapa que pode definir se ele continuará preso.
A reportagem do Fantástico também destacou que o podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e em outras plataformas de áudio, trazendo reportagens e investigações do programa em formato sonoro.


