Campeonato de cortes de Tarcísio paga R$ 50 mil ao vencedor
Ação online busca viralizar vídeos e afastar o governador de São Paulo da imagem de Jair Bolsonaro. Assessoria nega relação do governador com a iniciativa
247 - Aliados do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), promovem nas redes uma competição batizada de “campeonato de cortes”, que promete um prêmio de R$ 50 mil ao criador de vídeos com maior engajamento entre 3 de novembro e 3 de dezembro. As informações são da Revista Fórum.
A iniciativa, ocorre enquanto o governador consolida o apoio do Centrão e Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança Pública licenciado, assume a relatoria do PL Antifacção no Congresso. A operação antecipa a disputa presidencial de 2026 e replica práticas de marketing digital semelhantes às que levaram o coach Pablo Marçal (PRTB) à condenação e inelegibilidade por abuso de poder econômico nas eleições paulistanas de 2024.
Diretriz "anti-Bolsonaro" e controle de conteúdo
Mensagens divulgadas em grupos de WhatsApp e na rede X indicam uma suposta orientação da equipe de Tarcísio para evitar qualquer associação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em um comunicado, enviado às 13h44 de sexta-feira (7), os organizadores afirmam que “a partir das 15h da tarde está proibido associar o Tarcísio à imagem do Bolsonaro”.
O texto acrescenta: “Eles querem que foque em segurança pública e principalmente no flow de ontem”, em referência à participação de Tarcísio e de Guilherme Derrite no Flow Podcast. Ainda segundo a mensagem, haveria punições para quem desobedecer. “QUEM POSTAR DEPOIS DAS 15H VAI PERDER AS VIEWS DO DIÁRIO E MENSAL. E se tiver recorrência até direito a BAN!!!”, destaca a publicação, de acordo com a reportagem.
Painel vazado e métricas do engajamento
Um painel privado (dashboard) divulgado por um empresário de tecnologia no X revelou o funcionamento da operação, indicando R$ 50 mil em prêmios e 6 milhões de visualizações em apenas um dia. O objetivo declarado seria “farmar” conteúdo viral em prol da imagem de Tarcísio, mirando diretamente a corrida presidencial de 2026.
A hashtag #tarcisiocortes, criada no dia 3 de novembro, consolidou a campanha digital. No TikTok, o número de vídeos saltou de 600 para mais de 1.000 publicações em uma semana, superando 5 milhões de impressões. No YouTube, 808 vídeos curtos foram publicados por 79 canais, somando 2,7 milhões de visualizações desde o início do mês.
Posição oficial do governo de São Paulo
Procurada pela reportagem, a assessoria do Palácio dos Bandeirantes negou envolvimento do governador e reagiu com ameaça de medidas legais. Em nota, afirmou que “a gestão estadual não tem conhecimento, tampouco envolvimento ou anuência dos fatos mencionados e, portanto, o governo e o governador do Estado desconhecem em absoluto a iniciativa citada pela reportagem. Qualquer tentativa de vincular os prints relatados ao governador é absolutamente falsa e irresponsável. Cabe ressaltar que a disseminação de informações falsas não será tolerada e, em caso de ilação indevida, todas as medidas legais cabíveis serão tomadas”.
Risco jurídico e precedente de Pablo Marçal
A origem dos R$ 50 mil é o ponto central da controvérsia. Pela legislação eleitoral, é vedado o financiamento de propaganda por empresas e o uso de recursos não declarados, caracterizados como caixa dois. No caso de Pablo Marçal, o TSE considerou ilícita a prática de premiar apoiadores para gerar engajamento, entendendo que isso simula apoio popular e desequilibra a disputa.
Se for comprovado que aliados de Tarcísio financiaram o “campeonato de cortes”, o episódio pode configurar abuso de poder econômico, passível de sanções severas, incluindo inelegibilidade por oito anos. O caso agora depende de apuração do Ministério Público Eleitoral e das autoridades competentes.



