Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Cidade que simbolizava a era do carvão hoje é líder da energia limpa

Transformação verde impulsionada por Xi Jinping coloca Ordos na vanguarda da descarbonização e reforça protagonismo climático da China

Projeto fotovoltaico em Ordos, na China (Foto: Xinhua)

247 – A cidade de Ordos, no norte da China, conhecida mundialmente por prosperar graças ao “ouro negro” de suas gigantescas reservas de carvão, tornou-se um dos símbolos mais expressivos da guinada ambiental chinesa. A reportagem foi originalmente publicada pela agência Xinhua.

No centro dessa mudança está um amplo parque industrial zero-carbono, onde turbinas eólicas e painéis solares alimentam uma rede inteligente capaz de suprir fábricas de hidrogênio, equipamentos fotovoltaicos e baterias para veículos elétricos. O complexo opera com cerca de 90% de eletricidade verde e reutiliza toda a água residual, demonstrando que sustentabilidade e expansão industrial podem caminhar juntas. Em 2024, o valor de produção dos equipamentos de nova energia do parque mais do que dobrou, ultrapassando 20 bilhões de yuans (aproximadamente 2,8 bilhões de dólares).

Xi Jinping redefiniu o caminho das regiões dependentes de recursos naturais

A transformação de Ordos está diretamente alinhada ao plano do presidente Xi Jinping para que regiões tradicionalmente dependentes de recursos fósseis reinventem seus modelos de desenvolvimento. Durante visita à Mongólia Interior em 2023, Xi orientou o governo local a “promover a transformação e a modernização dos setores tradicionais de energia, ao mesmo tempo em que se desenvolve vigorosamente a energia verde”.

A mudança não é isolada. A China planeja criar cerca de 100 parques industriais zero-carbono entre 2026 e 2030, além de converter complexos já existentes para operações de baixo ou zero carbono. A iniciativa integra um esforço nacional mais amplo, liderado por Xi, para acelerar a transição ecológica em todos os setores.

Resposta à crise climática e motor econômico

O aquecimento global atingiu novos recordes em 2023 e 2024, reforçando a urgência da ação climática. Xi tem defendido que a “transformação verde não é apenas o caminho essencial para enfrentar as mudanças climáticas, mas também um novo motor para o desenvolvimento econômico e social”.

Sob sua liderança, a China priorizou a ação climática na agenda nacional, impulsionando crescimento econômico de baixo carbono, com forte componente de cooperação internacional. No discurso feito na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2020, Xi anunciou a meta chinesa de atingir o pico de emissões antes de 2030 e a neutralidade de carbono antes de 2060, prazo muito mais curto que o de diversas economias desenvolvidas.

Desde então, políticas robustas e investimentos em energia limpa desencadearam o que Xi classificou como uma “transformação socioeconômica ampla e profunda”. A China se tornou líder mundial na adoção de energia limpa e na fabricação de equipamentos essenciais para a transição, como painéis solares, turbinas eólicas e veículos elétricos. No final de 2024, 56% da capacidade instalada de geração de energia do país era composta por fontes renováveis.

Veículos elétricos já superam os modelos a combustão

A mudança também alcançou o cotidiano. Cerca de um em cada dez veículos nas ruas chinesas já é elétrico ou híbrido plug-in. Em outubro de 2025, pela primeira vez, os veículos de nova energia superaram as vendas dos automóveis a combustão, representando 51,6% das vendas no maior mercado automotivo do mundo.

Indústria, florestas e mercado de carbono: a transformação estruturante

O compromisso com o desenvolvimento verde vem gerando mudanças profundas na indústria. Xi defende a modernização dos setores tradicionais com novas tecnologias, tornando-os “mais inteligentes, mais avançados e mais limpos”, enquanto estimula a criação de “forças produtivas de nova qualidade”.

Além da revolução industrial, o país lidera um amplo esforço de reflorestamento. Xi participa pessoalmente de ações de plantio em Pequim há 18 anos, período no qual a cobertura florestal chinesa superou 25% do território, contribuindo com um quarto das novas áreas verdes do planeta desde 2000.

Outro pilar é o mercado nacional de comércio de emissões, lançado em 2021 e hoje o maior do mundo. O instrumento ajuda a reduzir a pegada de carbono das empresas e a cumprir metas climáticas internas.

Entre 2020 e 2024, a China registrou crescimento médio anual de 5,5% do PIB, enquanto sua intensidade energética caiu 11,6%, o equivalente a 1,1 bilhão de toneladas de CO₂ evitadas — prova de que descarbonizar não impede o avanço econômico.

Papel global: metas, cooperação e infraestrutura verde internacional

No cenário internacional, a China reforça sua posição como pilar de estabilidade na governança climática. Em setembro, Xi afirmou em mensagem ao Cúpula do Clima da ONU que a “transição verde e de baixo carbono é a tendência do nosso tempo”, pedindo foco e unidade da comunidade internacional.

Na ocasião, o presidente anunciou as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) da China: redução de 7% a 10% das emissões líquidas em relação ao pico e participação superior a 30% de fontes não fósseis no consumo energético até 2035. Segundo Xi, “essas metas representam os maiores esforços possíveis dentro dos requisitos do Acordo de Paris”.

A cooperação internacional também é parte central da estratégia. A China investe em projetos que levam energia limpa a outros países, fortalecendo o conceito de “futuro compartilhado para a humanidade”. Entre os exemplos estão a gigantesca usina solar Al Dhafra, nos Emirados Árabes Unidos; os parques solares Cauchari, na Argentina; e o parque eólico Zhanatas, no Cazaquistão.

COP30: compromisso reafirmado no Brasil

Na COP30, realizada em Belém, o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang, enviado especial de Xi, reafirmou o compromisso chinês com “um caminho de desenvolvimento verde, de baixo carbono e de alta qualidade”, prometendo seguir fornecendo produtos e serviços limpos de alta tecnologia ao mundo.

Ordos se torna símbolo da nova China verde

A trajetória de Ordos — de capital do carvão a laboratório climático — ganhou destaque mundial. Para os participantes da COP30 que visitaram o Pavilhão da China e viram imagens do parque zero-carbono, a cidade representou mais do que uma história local: tornou-se um retrato do esforço nacional que transforma compromissos climáticos em ações concretas.

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