Argentina recebeu aporte indireto de US$ 870 milhões dos EUA via FMI
Movimentação simultânea de ativos sugere apoio financeiro de Washington ao governo Milei
247 - As reservas argentinas junto ao Fundo Monetário Internacional registraram um aumento significativo no último mês, movimento que coincidiu exatamente com a redução de ativos dos Estados Unidos. A variação idêntica nos dados do organismo internacional chamou atenção de analistas e reacendeu especulações sobre uma modalidade indireta de assistência financeira dos EUA ao governo de Javier Milei.
De acordo com informações divulgadas pelo InfoMoney, que cita números publicados no site do FMI, os Direitos Especiais de Saque (DES) da Argentina cresceram 640,8 milhões de DES — o equivalente a US$ 870 milhões — em outubro. No mesmo período, as reservas dos EUA no fundo encolheram justamente na mesma proporção, reforçando a hipótese de coordenação entre os dois países.
Em 1º de novembro, Buenos Aires também quitou cerca de 621 milhões de DES em juros referentes às obrigações que mantém com o FMI em Washington. Apesar da movimentação, nem o Departamento do Tesouro dos EUA, nem o FMI ou o Ministério da Economia argentino responderam aos pedidos de esclarecimento. O Banco Central da Argentina igualmente preferiu não comentar o caso.
Para Stephen Paduano, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Oxford e ex-assessor do Tesouro norte-americano, a correlação entre a queda dos ativos dos Estados Unidos e a alta dos argentinos dificilmente é casual. “É uma coincidência extremamente interessante ou significa que os EUA estão fornecendo financiamento em DES para a Argentina — presumivelmente para que o país fizesse seu pagamento de novembro ao FMI”, afirmou.
Os DES são ativos de reserva emitidos pelo FMI e distribuídos conforme a participação de cada país no fundo. Governos podem transferir parte dessas reservas a outras nações mediante solicitação, o que torna possível que esse tipo de operação seja utilizado como instrumento de apoio financeiro indireto.
Ainda assim, os dados disponíveis não permitem confirmar se o aumento das reservas argentinas está ligado à linha de swap firmada com os Estados Unidos no mês passado. Também não se sabe se Buenos Aires utilizou essa ferramenta para outros fins desde então. Na terça-feira, porém, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou à MSNBC que o governo Milei empregou uma “pequena quantia” do mecanismo acertado entre os dois países.
O Tesouro norte-americano não divulgou detalhes do acordo e evitou comentários adicionais sobre o programa desde que o Banco Central da Argentina anunciou o swap em 20 de outubro. Na ocasião, Bessent ofereceu a Milei — considerado aliado prioritário dos EUA na América Latina — um pacote robusto para conter a pressão do mercado em meio às eleições de meio de mandato. Além do swap de US$ 20 bilhões, houve também compra de pesos e tratativas com bancos de Wall Street para ampliar as possibilidades de financiamento ao país.



