Casa Branca ordena que militares priorizem “quarentena” do petróleo da Venezuela por dois meses
Medida relatada pela Reuters indica aposta dos EUA em pressão econômica e sanções, enquanto Caracas reage e diz que “a ameaça é o governo dos EUA”
247 – A Casa Branca determinou que as Forças Armadas dos Estados Unidos concentrem seus esforços “quase exclusivamente” na imposição de uma espécie de “quarentena” sobre o petróleo venezuelano pelos próximos dois meses, em uma ação que reforça a estratégia de estrangulamento econômico contra o governo de Nicolás Maduro. A informação foi revelada nesta quarta-feira (24) pela Reuters, com base no relato de um funcionário norte-americano que falou sob condição de anonimato.
Segundo o representante do governo, a diretriz indica que Washington está, neste momento, mais interessada em ampliar mecanismos econômicos — sobretudo sanções — do que em adotar medidas militares diretas para pressionar Caracas. A ordem também ocorre em meio ao aumento da presença militar dos EUA no Caribe e à intensificação de operações de interdição marítima envolvendo navios ligados ao petróleo venezuelano.
“O foco é primeiro usar pressão econômica”, diz autoridade dos EUA
De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, embora “opções militares ainda existam”, o objetivo imediato é aprofundar a coerção econômica. A fala do funcionário foi direta:
“Embora opções militares ainda existam, o foco é primeiro usar pressão econômica ao impor sanções para alcançar o resultado que a Casa Branca busca”
O mesmo oficial afirmou que a expectativa interna é de que a Venezuela caminhe para uma crise econômica ainda mais grave caso não aceite condições impostas pelos Estados Unidos.
“Os esforços até agora colocaram tremenda pressão sobre Maduro, e a crença é que, até o fim de janeiro, a Venezuela enfrentará uma calamidade econômica, a menos que aceite fazer concessões significativas aos EUA”
Trump pressiona Maduro a deixar o poder
A decisão ocorre sob a presidência de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, que tem adotado uma política agressiva contra Caracas. A reportagem afirma que, embora Trump evite expor publicamente seus objetivos com precisão, ele teria pressionado Maduro, nos bastidores, a deixar o país. Na segunda-feira, Trump afirmou que seria “inteligente” se Maduro abandonasse o poder.
Trump também tem acusado a Venezuela de “inundar” os Estados Unidos com drogas. Nesse contexto, sua administração vem ampliando ações militares na região, incluindo ataques a embarcações que supostamente transportariam entorpecentes.
EUA ampliam interdições e tentam apreender terceiro navio
Nos últimos meses, a política de Washington incluiu operações marítimas intensificadas. Apenas neste mês, a Guarda Costeira dos EUA interceptou dois petroleiros no mar do Caribe, ambos carregados com petróleo venezuelano.
A Reuters relata ainda que as declarações da autoridade da Casa Branca vieram após a agência informar que a Guarda Costeira aguardava reforços para realizar uma terceira apreensão, inicialmente tentada no domingo, contra um navio vazio sob sanções chamado Bella-1.
O governo Trump, segundo o texto, também autorizou atividades encobertas da CIA direcionadas a Caracas e tem ameaçado ampliar ações, incluindo ataques a estruturas de narcotráfico em terra.
Caracas reage: “A ameaça é o governo dos EUA”
Do lado venezuelano, a resposta foi dura. O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, afirmou na terça-feira:
“A ameaça não é a Venezuela. A ameaça é o governo dos EUA”
A declaração reforça a linha adotada por Caracas de que as ações de Washington violam a soberania venezuelana e ampliam o risco de escalada militar na região.
Presença militar “gigantesca” no Caribe: 15 mil soldados e porta-aviões
Apesar de o objetivo declarado ser o fortalecimento de sanções e interdições econômicas, a dimensão do aparato militar mobilizado chama atenção. Segundo a Reuters, o Pentágono reuniu mais de 15 mil soldados no Caribe, além de um porta-aviões, 11 outros navios de guerra e mais de uma dúzia de aeronaves F-35.
A própria reportagem ressalta que parte desses meios não é naturalmente apropriada para missões de interdição marítima, como caças de última geração, o que alimenta dúvidas sobre o verdadeiro alcance da ordem de “foco quase exclusivo” contra o petróleo venezuelano.
“Quarentena” em vez de “bloqueio” remete à crise dos mísseis de Cuba
A opção do governo dos EUA por usar o termo “quarentena”, e não “bloqueio”, também foi destacada na reportagem. A expressão remete ao episódio histórico da crise dos mísseis de Cuba, em 1962, quando o governo de John F. Kennedy evitou o termo “bloqueio” por ser considerado uma linguagem de guerra.
A Reuters lembra a fala do então secretário de Defesa Robert McNamara, em 2002:
“Nós chamamos de quarentena porque bloqueio é uma palavra de guerra”
No entanto, a tentativa de suavizar o termo não impediu críticas internacionais.
Especialistas da ONU condenam ação e falam em “agressão armada ilegal”
Na quarta-feira, especialistas da ONU condenaram a medida descrita como “bloqueio” e afirmaram que esse tipo de uso da força é reconhecido como:
“agressão armada ilegal”
Ainda segundo o texto, os Estados Unidos informaram à ONU, na terça-feira, que imporão e aplicarão sanções “na máxima extensão” para privar Maduro de recursos.
Escalada econômica e risco político
A diretriz revelada pela Reuters sugere que o governo Trump pretende, ao menos no curto prazo, aprofundar um cerco econômico à Venezuela com impactos diretos sobre sua principal fonte de receita: o petróleo. Ao mesmo tempo, a concentração de forças militares no Caribe e o histórico recente de ataques e apreensões elevam a tensão regional e ampliam o risco de incidentes com consequências imprevisíveis.
Com a promessa de intensificação das sanções e a perspectiva de novas interdições, a estratégia norte-americana parece mirar um objetivo político direto: impor condições severas para enfraquecer Maduro e forçar concessões. Caracas, por sua vez, denuncia a ofensiva como ameaça à soberania do país e alerta para a ilegalidade internacional do cerco.



