Entenda por que Trump ataca a Venezuela
Avanço na produção de ouro e ferro, petróleo e acordos estratégicos com Rússia e China estão no centro das tensões entre Washington e Caracas
247 – A intensificação das ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a Venezuela tem raízes econômicas profundas. Segundo reportagem publicada pela teleSUR, os recentes dados apresentados pela vice-presidenta Delcy Rodríguez à Assembleia Nacional ajudam a explicar o interesse crescente de Washington: a produção venezuelana de ouro e ferro está em forte expansão, e o país avança em acordos estratégicos com Rússia e China para explorar minerais críticos para a economia global.
No informe apresentado em 4 de dezembro de 2025, creditado pela teleSUR, Rodríguez destacou “a produção de ouro em crescimento, no setor público com 97,6% e a produção privada em 41%”. Ela também informou um aumento de 181% na exportação de ferro e seus derivados, em linha com o Plano de Desenvolvimento Nacional. Segundo a vice-presidenta, esses avanços resultam do empenho da classe trabalhadora do Motor Minero e das Indústrias Básicas.
A cobiça sobre as riquezas venezuelanas
A reportagem observa que a obsessão de Trump com a Venezuela, que inclui planos de prolongar pressões até 2028, está ligada às vastas reservas naturais do país. Além do petróleo — frequentemente apresentado como o principal alvo de Washington — o território venezuelano abriga enormes depósitos de ouro, ferro, bauxita, carvão, coltã, níquel, cobre e diamantes, recursos cada vez mais estratégicos no cenário global.
Desde 2021, por meio do Decreto nº 4.598, o presidente Nicolás Maduro classificou como minerais estratégicos a casiterita, níquel, ródio, titânio e elementos associados às terras raras, essenciais para tecnologias de ponta. Dados do Banco Central da Venezuela mostram que o país lidera as reservas oficiais de ouro na América Latina, com 161 toneladas, cerca de 25% acima de México, Brasil e Argentina.
A Venezuela também abriga a quarta maior mina de ouro do planeta, com reservas estimadas em 3.500 toneladas, e concentra entre 10% e 23% das reservas mundiais de minerais estratégicos. A atividade aurífera gera cerca de 250 mil empregos diretos e indiretos.
Preços internacionais e impacto interno
A cotação do ouro no país segue o valor internacional definido pelo COMEX, onde a onça troy supera atualmente US$ 4.200. No mercado doméstico, o preço é convertido pelo câmbio oficial do Banco Central da Venezuela, mas permanece fortemente dolarizado. O ouro de 18 quilates, por exemplo, varia entre US$ 73 e US$ 75 por grama, enquanto o de 14K fica em torno de US$ 50 a US$ 51.
Uma história marcada por saques e disputas
A matéria relembra que o ouro venezuelano vem sendo explorado desde antes de 1800, segundo registros de missionários capuchinhos e funcionários coloniais. O antropólogo Sergio Milano, da Universidade Nacional Experimental de Guayana, afirma que “até a data, a cultura mineradora ao sul do Orinoco vem se estruturando e consolidando como uma maneira de pensar e agir particular”.
Durante mais de um século, políticas permissivas ou omissas favoreceram o saque de recursos, gerando devastação ambiental e abandono de comunidades inteiras. Embora Simón Bolívar defendesse que as minas pertenciam à República, governos de direita, segundo o texto, distribuíram concessões a multinacionais e particulares, gerando conflitos de terra e danos ambientais profundos.
Esse cenário muda com a chegada de Hugo Chávez ao poder. O Estado passou a regular e fiscalizar as atividades mineradoras, adotando princípios de sustentabilidade, justiça social e soberania. Programas como o Plano Caura, a Reconversão Minera e a Missão Piar contribuíram para reorganizar o setor.
O Arco Minero e a estratégia de soberania
Em 2012, Chávez apresentou sua visão para transformar o Arco Minero do Orinoco em um grande eixo econômico integrado à Faixa Petrolífera do Orinoco. Em 2016, o governo Maduro formalizou a Zona de Desenvolvimento Estratégico Nacional Arco Minero do Orinoco, peça-chave da Agenda Econômica Bolivariana, que busca romper com o rentismo petrolífero e diversificar a economia.
Nesse modelo, empresas públicas, privadas e mistas atuam mediante autorização estatal, sempre com o Estado mantendo ao menos 55% das ações e preservando o direito minerário.
Cooperação estratégica com Rússia e China
A aproximação entre Caracas, Moscou e Pequim é um dos pontos que mais inquietam Washington. Em novembro de 2025, durante a XIX Reunião da Comissão Intergovernamental de Alto Nível Rússia-Venezuela, Delcy Rodríguez destacou o fortalecimento do setor graças à cooperação bilateral. Ela afirmou:
“Hoje estamos propondo 42 grandes ações nos âmbitos das comissões da CIAN e sabemos que Rússia-Venezuela, nossa relação, é indetenível e indestrutível”.
A teleSUR lembra que Rússia e China estão entre os maiores produtores de ouro do mundo — juntos, pilares de um mercado que atinge preços recordes impulsionados pela redução de juros nos Estados Unidos e por tensões no Oriente Médio.



