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Navios sob sanções reconsideram rotas após apreensão de superpetroleiro pelos EUA

Pressão de Washington sobre embarcações ligadas à Venezuela amplia riscos e pode atrasar exportações

Petroleiro durante uma operação descrita pela Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, como a apreensão do navio pelos Estados Unidos na costa da Venezuela (Foto: Reuters)

247 - Mais de 30 petroleiros sob sanções dos Estados Unidos que operam na Venezuela avaliam mudar seus planos de navegação após a apreensão de um superpetroleiro carregado com petróleo bruto venezuelano, informa a Reuters.

A apreensão, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcou a primeira vez que uma carga de petróleo venezuelano foi confiscada desde o início das sanções contra Caracas em 2019. A operação também foi o primeiro movimento desse tipo desde que Trump ordenou o reforço militar na área.

A reação foi imediata entre proprietários de embarcações, operadores e agências de navegação. Segundo fontes do setor ouvidas pela Reuters, muitos deles estão revisando se permanecerão nas águas venezuelanas nos próximos dias, diante da escalada de pressão do governo norte-americano sobre o presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Especialistas consultados pela agência avaliam que a restrição às cargas venezuelanas deve provocar atrasos temporários nas exportações e, possivelmente, afastar parte dos armadores. Até agora, Washington evitava interferir diretamente nas remessas de petróleo do país, realizadas por intermediários e navios de terceiros.

Atualmente, mais de 80 navios-tanque estão ancorados na Venezuela ou em áreas próximas, segundo dados compilados pela TankerTrackers.com. Desse total, mais de 30 embarcações estão sob sanções dos EUA.

O governo venezuelano reagiu duramente e classificou a medida como “roubo descarado”, chamando a apreensão de “um ato de pirataria internacional”.O petroleiro detido, identificado como Skipper por um grupo internacional de análise de riscos, integra a chamada “frota paralela”: embarcações que transportam petróleo sob sanções e frequentemente desligam seus sinais de rastreamento ou alteram artificialmente suas localizações. Essas práticas se intensificaram desde que Caracas passou a enfrentar restrições impostas por Washington.

Sanções anteriores envolvendo navios ou fluxos de petróleo da Venezuela já haviam provocado longas esperas no mar, com cargueiros permanecendo semanas ou até meses parados para evitar confrontos. O fenômeno faz parte do universo da chamada “frota clandestina”, que hoje soma 1.423 petroleiros no mundo, dos quais 921 estão sujeitos a penalidades dos Estados Unidos, Reino Unido ou União Europeia, conforme levantamento da Lloyd’s List Intelligence. São embarcações antigas, de propriedade pouco transparente e sem seguro de alto nível, o que as exclui de portos e operações das grandes petrolíferas.

Grande parte dessa frota transporta petróleo sancionado da Rússia, Irã e Venezuela para destinos asiáticos. Muitos desses navios alternam carregamentos iranianos, venezuelanos e russos em viagens sucessivas.

No caso venezuelano, eles operam em portos da estatal PDVSA usando nomes falsos e ocultando suas rotas até bem depois de cruzarem o Atlântico rumo à Malásia ou à China. A empresa não respondeu aos pedidos de comentário feitos pela Reuters.

Segundo estimativas da companhia de transporte marítimo Frontline, cerca de 15% da frota global de superpetroleiros — navios capazes de carregar até 2 milhões de barris — já foi atingida por sanções.

Nos últimos anos, o governo norte-americano incluiu quase toda a frota da PDVSA em suas listas restritivas, além de navios que abastecem Cuba, também sob sanções. Rússia e China, alvos frequentes de penalidades internacionais, empregam estratégias semelhantes para driblar limitações comerciais.

Apesar da intensificação dos riscos, a Venezuela elevou suas exportações de petróleo para mais de 900 mil barris por dia em novembro. As importações de nafta, produto essencial para diluir o petróleo extrapesado venezuelano e majoritariamente fornecido pela Rússia, dobraram para 167 mil barris por dia, ampliando os estoques para as próximas semanas. O país mantém ainda cooperação marítima com o Irã no uso de suas frotas sancionadas.

A Chevron, parceira central da PDVSA nas operações de exportação para os EUA, afirmou à Reuters que segue operando normalmente.

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