Organizações de direitos humanos do Chile temem retrocessos em verdade, justiça e memória
Entidades alertam para riscos após vitória da extrema direita no Chile
247 - Organizações chilenas de direitos humanos manifestaram preocupação com os rumos políticos do país após a vitória eleitoral da extrema direita. Em coletiva realizada aos pés do monumento a Salvador Allende, na Plaza de la Constitución, representantes de diferentes entidades alertaram que um governo que não coloca os direitos dos cidadãos no centro de sua administração pode abrir caminho para a retomada de práticas de perseguição e violência estatal.
Segundo o documento lido durante o ato, o governo que tomará posse em março tem a obrigação de cumprir os compromissos internacionais assumidos pelo Estado chileno, incluindo a punição de crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura e a rejeição de qualquer aplicação de prescrição ou anistia para esse tipo de crime. A informação é da Prensa Latina.
Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito José Antonio Kast mencionou a possibilidade de libertar presos com mais de 70 anos e portadores de doenças terminais, entre eles detentos da prisão de Punta Peuco. O local abriga militares condenados por assassinatos, sequestros, torturas e desaparecimentos forçados ocorridos durante a ditadura de Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990.
As organizações humanitárias reafirmaram que não abrirão mão do direito de se manifestar e de exigir que o próximo governo respeite integralmente suas reivindicações por verdade, justiça, memória, reparação integral e garantias de não repetição das violações cometidas no passado.
A presidente da Associação de Familiares de Pessoas Executadas Politicamente (AFEP), Alicia Lira, denunciou que uma eventual libertação dos presos de Punta Peuco representa uma afronta direta às vítimas e a seus familiares, destacando a longa luta das entidades para que os responsáveis fossem levados à Justiça. “Hoje dizemos ao presidente eleito que estamos em alerta e que continuaremos a defender os nossos direitos”, declarou.
Já Gabi Rivera, presidente da Associação de Familiares de Detidos e Desaparecidos (AFDD), afirmou que a busca pelos parentes desaparecidos seguirá ativa, assim como ocorreu há mais de cinco décadas, ressaltando que a sociedade chilena precisa conhecer o destino de cada uma das vítimas da repressão.
Os participantes do ato também denunciaram ataques recentes a memoriais dedicados às vítimas da ditadura, que têm sido alvo de vandalismo. A declaração apresentada diante da estátua de Salvador Allende foi assinada pela AFDD, pela AFEP, pelos grupos de familiares de detidos desaparecidos de Paine e Mulchén, pela Rede Nacional de Locais de Memória e pelo Espaço de Memória dos 38 de Londres.



