Trump prepara conversa direta com Maduro em meio a ofensiva no Caribe
Presidente dos EUA sinaliza abertura diplomática enquanto Washington endurece acusações contra o líder venezuelano
247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja estabelecer um contato direto com Nicolás Maduro em meio à escalada das ações militares de Washington no Caribe. A informação foi revelada pelo site Axios, cuja reportagem detalha os bastidores da estratégia norte-americana para pressionar o governo venezuelano.
Segundo o veículo, o movimento marca um ponto decisivo na política de “diplomacia das canhoneiras” adotada por Trump. A decisão também ocorre no mesmo dia em que o Departamento de Estado classificou Maduro como líder de uma organização terrorista, ampliando o aparato jurídico que permite ações militares na região.
A intenção de diálogo foi confirmada por autoridades citadas pela Axios. Um dos integrantes do governo afirmou que “ninguém está planejando entrar e atirar nele ou capturá-lo — neste momento. Eu não diria nunca, mas esse não é o plano agora”. Outro ponto enfatizado pelos assessores é a continuidade dos ataques a embarcações suspeitas de transportar drogas. “Enquanto isso, vamos explodir barcos que enviam drogas. Vamos parar o narcotráfico”, disse um dos funcionários.
Os números da operação, batizada de Southern Spear, mostram o alcance da ofensiva: ao menos 83 pessoas morreram em 21 ataques com mísseis contra barcos supostamente envolvidos no tráfico de drogas. A Axios indica que, embora oficialmente seja uma missão de interdição de narcóticos, a iniciativa tem como objetivo não declarado a mudança de governo em Caracas.
Autoridades ouvidas pelo site afirmam que a ação conta inclusive com operações encobertas. “Temos operações secretas, mas não foram criadas para matar Maduro. Foram feitas para interromper o narcotráfico”, disse um representante da Casa Branca, ressaltando ainda que “se Maduro partir, não derramaríamos uma lágrima”.
Ainda não há data definida para a conversa entre Trump e Maduro, mas o plano está em curso. Um integrante do governo afirmou que toda comunicação seguirá a diretriz de qualificar o líder venezuelano como “narcoterrorista”, termo considerado central para expressar a visão do governo dos EUA. Diplomatas citados na matéria avaliam que Maduro pode voltar a prometer eleições futuras e concessões econômicas, mas recordam que “ele nunca cumpre suas promessas”.
A Axios recorda que a Venezuela, rica em petróleo, mantém alianças estratégicas com Cuba, Irã, China e Rússia, o que amplia a complexidade da pressão internacional. A reportagem ressalta ainda que parte do cálculo norte-americano envolve o temor de que agentes cubanos eliminem Maduro caso ele decida deixar o poder.
O histórico também pesa. Em 2020, durante o primeiro mandato de Trump, o Departamento de Justiça dos EUA indiciou Maduro como líder do chamado Cartel de los Soles, acusação que o governo venezuelano sempre negou, classificando o grupo como ficção.
A movimentação diplomática ocorre após o Senado norte-americano ter rejeitado, por margem estreita, uma resolução que buscava limitar as ações militares de Trump. Embora críticos tentem associar a escalada ao secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional, Marco Rubio, fontes oficiais sustentam que a condução vem diretamente do presidente. Um funcionário declarou que “o falcão na Venezuela é Donald Trump, seguido por Stephen Miller e depois por Marco Rubio”.
Antes de lançar a operação Southern Spear, Trump ensaiou um jogo de pressão e aproximação ao enviar Ric Grenell como emissário. Segundo o New York Times, Maduro chegou a oferecer as riquezas venezuelanas aos EUA, gesto que Trump interpretou como sinal de que “você não quer mexer com os Estados Unidos”. Mas a permanência de Maduro no poder foi considerada inaceitável pela Casa Branca.
Mais recentemente, após novas tentativas de aproximação por parte de Caracas, Trump admitiu publicamente que “poderia ter algumas conversas com Maduro”, deixando em aberto o rumo das negociações. Segundo a Axios, auxiliares próximos acreditam que o panorama agora favorece uma saída diplomática. Um conselheiro resumiu o objetivo de Trump: “ele quer que seu legado seja o de alguém que fez tudo o que pôde para conter o fluxo de drogas ilegais para este país”.



