Trump volta a admitir diálogo com Maduro em meio a avanço militar no Caribe
Presidente dos EUA repete abertura para negociar enquanto operação Lança do Sul intensifica tensões na região
247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou pela terceira vez consecutiva que está disposto a conversar com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. A sinalização de diálogo ocorre em meio à crescente tensão provocada pelo massivo deslocamento militar norte-americano no Caribe.
Segundo a teleSUR, Trump voltou ao tema durante uma interação com jornalistas na Casa Branca, em Washington. A emissora recorda que, no domingo (16) e na segunda-feira (17), o presidente dos EUA já havia mencionado que poderia falar diretamente com o líder venezuelano.
"Ele quer conversar. Estou aberto a falar com ele. Falo com todo mundo", declarou Trump ao lado do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, ao ser questionado sobre a possibilidade de negociação com Caracas. A afirmação ocorre no mesmo momento em que Washington amplia a operação militar Lança do Sul, considerada o maior movimento naval no Caribe em décadas.
Apesar da disposição ao diálogo, Trump voltou a lançar acusações contra a Venezuela, alegando — sem apresentar qualquer prova — que o país teria enviado “toda a sua população carcerária” aos EUA e continuaria a traficar drogas para território norte-americano. Esses argumentos contrastam com dados amplamente conhecidos, que mostram que a maior parte das drogas enviadas aos Estados Unidos parte de países com saída para o Pacífico, como Colômbia, Equador e Peru.
O presidente norte-americano também afirmou que Maduro “estava lidando com um mau presidente [Joe Biden] e se saiu bem”, enquanto exaltou sua política migratória ao dizer que agora os EUA possuem “as fronteiras mais seguras do mundo” e que "ninguém entra a menos que o faça legalmente. Nós os deteremos".
As declarações surgem em paralelo ao avanço da operação Lança do Sul. No domingo, o porta-aviões USS Gerald R. Ford, o mais avançado e caro da frota norte-americana, chegou ao Caribe acompanhado de destróieres, fragatas e aeronaves de quinta geração. Embora o governo Trump alegue tratar-se de uma iniciativa contra o narcotráfico, governos latino-americanos e analistas destacam que a retórica remete à Doutrina Monroe e ameaça a soberania venezuelana, cujo território é estratégico por suas vastas reservas energéticas.
As ações militares já provocam impactos na região. De acordo com reconhecimento da própria ONU, ataques conduzidos pela marinha dos EUA no Caribe e no Pacífico resultaram na morte de mais de 80 pessoas e na destruição de cerca de 20 embarcações, sendo classificados como execuções extrajudiciais e violações do direito internacional.
Paralelamente, tropas do Comando Sul dos EUA iniciaram, junto às Forças de Defesa de Trinidad e Tobago (TTDF), exercícios militares conjuntos entre 16 e 21 de novembro. O governo trinitário justificou a operação como estratégia contra o crime organizado. Caracas, contudo, alertou que a proximidade territorial — apenas 11 quilômetros separam ambos os países em seu ponto mais próximo — abre margem para que o território de Trinidad e Tobago seja usado como base para ações que ameacem a soberania venezuelana sob o argumento de combater o narcotráfico.
Em meio à maior mobilização militar norte-americana no entorno da Venezuela em décadas, a retomada do discurso de diálogo por parte de Trump adiciona um novo elemento à crise regional, em um cenário já marcado por forte instabilidade e disputas geopolíticas.



