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Vencedora do Nobel da Paz, Maria Corina impulsiona mentiras sobre Maduro

Aliada de Trump, Maria Corina Machado amplia narrativas falsas para justificar intervenção ilegal de Washington na Venezuela

Líder da oposição venezuelana, María Corina Machado fala a apoiadores em Caracas, Venezuela 23/01/2024 (Foto: REUTERS/Leonardo Fernández Viloria)

247 - A nova onda de ataques políticos contra a Venezuela voltou ao centro do debate internacional após declarações recentes de Maria Corina Machado, que ganhou destaque internacional ao receber o Prêmio Nobel da Paz, mas agora enfrenta forte contestação por difundir desinformação contra o governo venezuelano.

O New York Times ouviu especialistas, diplomatas e analistas críticos à postura da dirigente opositora e ao uso político que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem fazendo dessas afirmações para sustentar uma possível intervenção contra o país.

Maria Corina intensificou a divulgação de versões já refutadas que tentam vincular o governo de Nicolás Maduro a suposta manipulação de eleições norte-americanas. Em entrevista à Bloomberg News, a opositora afirmou: “Eu não tenho dúvida de que Nicolás Maduro, Jorge Rodríguez e muitos outros são os mentores de um sistema que fraudou eleições em muitos países, incluindo os Estados Unidos". A alegação, rejeitada por especialistas e por órgãos de inteligência dos próprios EUA, vem sendo usada politicamente por Trump para reforçar discursos sem comprovação sobre o pleito de 2020.

O New York Times destaca que Maria Corina vem se alinhando a uma narrativa funcional aos interesses de Trump, num momento em que a Casa Branca cogita medidas mais agressivas contra Caracas. A estratégia, segundo analistas, repete padrões já vistos em outras ações de política externa dos EUA, marcadas por intervenções justificadas por informações duvidosas — um paralelo que acende alertas entre diplomatas experientes.

Além disso, Corina e aliados têm insistido no argumento de que Maduro comandaria duas organizações criminosas — o Tren de Aragua e o chamado Cartel de los Soles — uma tese que especialistas classificam como infundada. Embora Washington tenha decidido enquadrar esses grupos como organizações terroristas, investigações independentes, relatórios de inteligência e especialistas em narcotráfico na América Latina rejeitam a ideia de que essas estruturas sejam dirigidas pelo governo venezuelano.

O jornal revela que juristas especializados em direito internacional criticam duramente os ataques realizados pela administração Trump contra embarcações classificadas como “narco-terroristas”, operações que já deixaram dezenas de mortos desde setembro. De acordo com esses especialistas, tais ações são ilegais e carecem de base jurídica, já que não há conflito armado declarado entre Estados Unidos e Venezuela.

Mesmo dentro da oposição venezuelana há vozes que desmentem Maria Corina. Henrique Capriles classificou como “ficção científica” a afirmação de que Maduro lideraria o Tren de Aragua. Pesquisadores citados pelo Times lembram que o grupo surgiu no sistema penitenciário e opera de forma autônoma em práticas criminosas comuns em vários países da região, sem qualquer evidência de direção estatal.

Apesar disso, Machado continuou promovendo acusações sem comprovação, como na entrevista concedida à CNN, onde declarou: “Todo mundo sabe que a Venezuela é hoje o principal canal da cocaína, e que esse é um negócio dirigido por Maduro". Estudos citados pela reportagem mostram exatamente o contrário: menos de 10% da cocaína que chega aos EUA passa pela Venezuela, e o fentanil — que provoca a maioria das mortes por overdose — é produzido no México.

O New York Times também contextualiza que a expressão “Cartel de los Soles” tem origem na década de 1990 e se refere, em geral, a práticas ilícitas de indivíduos das Forças Armadas, fenômeno que ocorre em diferentes países das Américas, democráticos ou não. Especialistas esclarecem que não existe um cartel estruturado comandado por Maduro, ao contrário do que a opositora tenta sustentar.

A reportagem ainda aponta que a insistência de Machado em alegações já desmentidas sobre suposta fraude eleitoral nos EUA aproxima sua atuação do discurso político de Trump, que historicamente utiliza desinformação para fins eleitorais e geopolíticos. Para estudiosos da política venezuelana, a dirigente tenta transformar problemas internos norte-americanos em justificativa para maior pressão contra Caracas, reforçando narrativas que favorecem uma agenda de hostilidade à Venezuela.

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