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Amizade com garimpeiro expõe trajetória de Ramagem na PF

Relação com empresário do garimpo em Roraima levanta questionamentos sobre atuação do deputado bolsonarista hoje foragido

O empresário do garimpo Rodrigo Cataratas e Alexandre Ramagem (Foto: Reprodução)

247 - A relação pessoal entre Alexandre Ramagem e um empresário ligado ao garimpo ilegal em Roraima voltou ao centro do debate político e institucional nesta semana, em meio à expectativa de que a Câmara dos Deputados delibere sobre a cassação do mandato do parlamentar. As conexões, registradas publicamente, reacendem dúvidas sobre a atuação de Ramagem no período em que foi delegado da Polícia Federal no estado amazônico.

A análise foi trazida pela jornalista Miriam Leitão, em seu blog no jornal O Globo, e detalha a amizade entre Ramagem e Rodrigo Martins Mello, conhecido como Rodrigo Cataratas. A relação é documentada em redes sociais de ambos e já foi confirmada pelo próprio Cataratas de forma pública.

Rodrigo Cataratas é empresário do setor de garimpo e pai de Celso Martins de Mello, preso em 2022 sob suspeita de exploração ilegal de ouro na Terra Indígena Yanomami. Celso acabou solto poucos dias depois. Mais recentemente, ele passou a ser investigado por suspeita de ter auxiliado Ramagem a deixar o Brasil rumo aos Estados Unidos, onde o deputado se encontra atualmente. Cataratas nega essa versão e afirma que o filho não ajudou na fuga, ponto que segue sob apuração das autoridades.

A amizade com alguém diretamente ligado ao garimpo ilegal causa estranhamento, sobretudo porque Ramagem atuou como delegado da Polícia Federal em Roraima, um estado marcado por conflitos envolvendo a exploração clandestina de recursos naturais em terras públicas e indígenas. Nesse contexto, a proximidade com representantes do setor levanta questionamentos sobre a postura adotada pelo então policial.

Rodrigo Cataratas acumula um histórico de acusações. Em janeiro de 2024, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por suspeita de incendiar um carro do Ibama. Em 2021, já havia sido acusado de invadir o pátio da Polícia Federal para atear fogo em um helicóptero do instituto. Ele também responde a três ações na Justiça Federal por garimpo ilegal em Roraima.

Na esfera patrimonial, Cataratas declarou à Justiça Eleitoral, quando concorreu a deputado federal em 2022, manter R$ 4,5 milhões em dinheiro vivo em casa. Embora a prática não seja ilegal, o volume chamou atenção por fugir ao padrão usual de manutenção de grandes quantias no sistema bancário. Na mesma declaração, informou um patrimônio de R$ 33,6 milhões, incluindo dez aeronaves e 11 veículos utilizados em atividades ligadas ao garimpo. Atualmente, ele é pré-candidato ao Senado e integra movimentos que defendem a legalização da atividade.

A ligação entre Ramagem e Cataratas teria se consolidado no período em que o hoje deputado exercia a função de delegado em Roraima. Ramagem foi posteriormente eleito parlamentar e acabou condenado pela participação na trama golpista relacionada aos atos de 8 de janeiro, tornando-se foragido da Justiça brasileira.

O contexto político se agravou no fim de semana, com a renúncia da deputada Carla Zambelli, movimento interpretado como uma estratégia para evitar a cassação do mandato após condenação determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. A decisão transferiu ainda mais atenção para o caso de Ramagem, cuja cassação deve ser analisada pela Câmara nesta semana.

Em entrevista concedida na semana passada ao programa Conexão GloboNews, o jurista e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior afirmou que a perda do mandato é consequência direta da condenação criminal. Apesar disso, a Câmara não concluiu o processo de cassação de Zambelli. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante, justificou a renúncia como uma estratégia política e declarou que Alexandre de Moraes “não manda”.

A expectativa agora recai sobre a decisão do Legislativo em relação a Ramagem. O deputado, condenado e vivendo nos Estados Unidos, aguarda o desfecho do processo que pode resultar na perda definitiva do mandato, em um novo teste institucional para a Câmara dos Deputados.

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