Data Favela: 58% querem deixar o crime para empreender e trabalhar
Estudo nacional aponta que oportunidades de emprego e abertura de negócios são os principais caminhos desejados para a saída da criminalidade
247 - A nova edição da pesquisa Raio-X da Vida Real, produzida pelo Data Favela, traz um retrato inédito sobre a disposição de pessoas envolvidas no tráfico de drogas em abandonar o crime. O levantamento mostra que 58% dos entrevistados deixariam imediatamente essa atividade caso tivessem uma oportunidade concreta de mudança. Os dados foram extraídos do relatório Raio-X da Vida Real, realizado pelo Data Favela com 3.954 entrevistas presenciais em favelas de 23 estados brasileiros.
O estudo revela que o desejo de saída está diretamente relacionado a melhores condições econômicas, especialmente ligadas ao trabalho. A pesquisa aponta que 22% deixariam o crime para abrir o próprio negócio, enquanto 20% sairiam diante de um emprego formal com carteira assinada. Outros 15% mencionaram a possibilidade de um trabalho com horários flexíveis, como atividades de motorista de aplicativo ou entregador. Somados, esses três fatores representam 57% das motivações para abandonar a criminalidade.
Os dados também variam significativamente entre os estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, 70% afirmaram que sairiam do crime, enquanto no Distrito Federal a taxa despenca para apenas 7%. Em São Paulo, 53% demonstraram disposição para deixar o tráfico, contrastando com os 74% observados em Rondônia.
Além da intenção de mudança, o relatório detalha as razões que prendem parte dos entrevistados ao circuito da criminalidade. Entre os que declararam que não sairiam, motivos econômicos continuam pesando. Segundo a pesquisa, 33% temem não conseguir outra fonte de renda, e 17% afirmam receio de não conseguir sustentar suas famílias. O risco de vida também aparece como fator relevante, chegando a 26%.
Outro ponto exposto pelo levantamento é que muitos desses trabalhadores do crime já transitam entre atividades ilícitas e legais. Cerca de 36% realizam outras ocupações remuneradas — de pequenos bicos a empregos formais — evidenciando que a renda obtida no crime é, na maioria dos casos, insuficiente. De acordo com o Data Favela, 63% ganham até dois salários mínimos, o que reforça o peso da vulnerabilidade econômica como chave para compreender tanto a entrada quanto a saída da criminalidade.
A pesquisa destaca ainda falas de entrevistados que ilustram esse movimento de busca por alternativas. Um homem de 22 a 26 anos resumiu o desejo de reconstruir a vida fora do tráfico ao afirmar: “Montar meu próprio negócio e viver tranquilo sem que a polícia me fizesse nenhum malˮ. Já uma mulher de 32 a 36 anos reforçou a importância do apoio e do emprego formal para abandonar o crime: “Emprego e sempre ter pessoas que incentivam você a seguir no caminho certo, longe do crimeˮ.
O Data Favela conclui que a grande maioria dos participantes demonstra disposição para mudar de vida se tiver acesso a oportunidades reais de trabalho, renda e segurança. A criminalidade, segundo o levantamento, se mostra mais como resultado da precariedade econômica do que como escolha definitiva — e a saída, para mais da metade dos entrevistados, depende principalmente de portas abertas no mercado de trabalho e no empreendedorismo.



