De olho em 2026, centrão quer que Tarcísio se afaste do bolsonarismo
Republicanos, União Brasil e PP apontam que o governador deve se posicionar como “moderado” para ser competitivo na disputa pela Presidência
247 - A relação entre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o núcleo mais fiel do bolsonarismo entrou em um momento de tensão. Lideranças partidárias avaliam que a ausência de figuras identificadas com o bolsonarismo no secretariado estadual se transformou em um ponto sensível, sobretudo diante das movimentações eleitorais para 2026. Mesmo assim, integrantes do centrão atuam para que esse distanciamento seja preservado, como forma de manter Tarcísio em uma posição considerada mais competitiva no campo da centro-direita, informa o jornal O Globo.
A estratégia ganhou força após o anúncio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato à Presidência da República em 2026. A decisão, atribuída a uma orientação de Jair Bolsonaro (PL), desagradou caciques partidários que vinham tratando Tarcísio como o principal nome para disputar o Palácio do Planalto. Como reação, lideranças do centrão passaram a pressionar para que eventuais mudanças no secretariado paulista — antes cogitadas para acomodar bolsonaristas históricos — fossem interrompidas.
A leitura entre dirigentes de partidos como Republicanos, União Brasil e Progressistas é de que a entrada de Flávio no tabuleiro eleitoral inviabilizou, ao menos por ora, uma reaproximação mais explícita de Tarcísio com setores considerados radicais. Para esses grupos, o governador precisa reforçar a imagem de político moderado, sem romper com o apoio do ex-presidente, mas evitando uma associação direta que possa comprometer sua viabilidade eleitoral.
Do lado bolsonarista, há insatisfação com o que é visto como poucos gestos de reconhecimento ao ex-presidente, apontado como principal fiador da eleição de Tarcísio ao Palácio dos Bandeirantes. Aliados reclamam que, sob o argumento de formar um “secretariado técnico”, o governador evitou nomeações que simbolizariam maior alinhamento político com Bolsonaro.
O desconforto ficou evidente em uma reunião recente entre dirigentes do centrão e Flávio Bolsonaro. O encontro foi marcado por questionamentos diretos ao senador, sobretudo pela falta de diálogo prévio sobre o lançamento de sua pré-candidatura. Presidentes de partidos, como Antônio de Rueda, do União Brasil, e o senador Ciro Nogueira (PI), do PP, manifestaram contrariedade com a condução do processo e reiteraram que seguem vendo Tarcísio como o nome preferencial para a disputa presidencial. Participantes relataram que Flávio foi indagado sobre a intenção de concentrar em si o capital político da direita e avançar sem alianças amplas.
No governo paulista, o cenário também é de transição. A saída de Gilberto Kassab (PSD) da Secretaria de Governo e Relações Institucionais, anunciada recentemente, tende a não ser um caso isolado. Outros integrantes do primeiro escalão avaliam deixar os cargos para se dedicar a projetos eleitorais em 2026, o que, em tese, abriria espaço para novas composições políticas.
No mês passado, Guilherme Derrite (PL) deixou a Secretaria de Segurança Pública para reassumir seu mandato na Câmara dos Deputados, de olho em uma candidatura ao Senado. Arthur Lima, secretário da Casa Civil e considerado um dos principais auxiliares de Tarcísio desde o início do mandato, estuda disputar uma vaga de deputado federal. O mesmo movimento é avaliado por Guilherme Piai, da Agricultura, e Helena Reis, do Esporte.
Roberto de Lucena (Republicanos), secretário de Turismo, também deve deixar o posto para tentar a reeleição à Câmara, já que se licenciou do mandato em 2023 para assumir a pasta estadual. Entre os poucos nomes ligados diretamente ao bolsonarismo no governo, a secretária da Mulher, Valéria Bolsonaro (PL), deixou o cargo para retomar seu mandato de deputada estadual e deve buscar a reeleição no próximo pleito.
O conjunto desses movimentos reforça a percepção de que, ao menos por enquanto, o Palácio dos Bandeirantes seguirá sendo palco de um delicado equilíbrio político, no qual o distanciamento calculado do bolsonarismo mais radical é visto como peça-chave para o futuro eleitoral de Tarcísio de Freitas.



