Centrão deu ultimato a Flávio após chantagem com candidatura: "dosimetria ou nada"
Flávio Bolsonaro lançou pré-candidatura à Presidência e disse ter um “preço” para recuar. Centrão quer Tarcísio em 2026
247- O encontro entre dirigentes do centrão e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) marcou uma segunda-feira (8) de forte tensão em Brasília, revelando divergências profundas sobre a estratégia eleitoral para 2026. A reunião ocorreu após a decisão de Jair Bolsonaro (PL) de escolher o primogênito como seu candidato ao Palácio do Planalto, movimentação que pegou aliados de surpresa e provocou insatisfação imediata, segundo o jornal O Globo.
Os presidentes do União Brasil, Antônio de Rueda, e do PP, Ciro Nogueira (PI), cobraram explicações de Flávio por não terem sido consultados antes do anúncio. Ambos reafirmaram que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segue como o nome mais competitivo do campo conservador.
Durante o encontro, Rueda e Ciro questionaram se Flávio pretendia “trazer para si” o capital político da direita e se estaria disposto a construir uma candidatura isolada, sem o apoio das principais siglas do bloco. Estudos citados por Flávio como prova de sua viabilidade eleitoral não teriam sido apresentados aos caciques.
Os dirigentes também relembraram gestos recentes que classificaram como “renúncias” feitas em favor da parceria com o bolsonarismo — entre eles, o desembarque do governo federal e a expulsão de filiados que permaneceram ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para ambos, a candidatura do senador não demonstra força suficiente para unir o campo conservador em 2026.
Anistia enterrada e ultimato sobre dosimetria
O tema da anistia aos condenados pelos atos golpistas, uma das principais bandeiras bolsonaristas no Congresso, foi encerrado durante a conversa. Rueda e Ciro informaram que não apoiariam o projeto nos moldes defendidos por Bolsonaro e foram taxativos ao dizer que, no máximo, aceitariam discutir a dosimetria das penas. A frase que resumiu o posicionamento foi, segundo presentes, clara: “é dosimetria ou nada”.
Horas depois do encontro, a Câmara aprovou o projeto que altera o cálculo de penas aplicadas a crimes contra o Estado Democrático de Direito. O líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), afirmou que Jair Bolsonaro disse ao filho, antes da votação, “que aceitava passar o Natal na cadeia, em nome das pessoas que seguem presas injustamente”. A expectativa é que o texto seja analisado pelo Senado ainda em 2025.
Antônio de Rueda não descartou completamente o apoio a Flávio, mas sinalizou que a sigla mantém alternativa própria: “Flávio tem legitimidade, mas ainda não temos nada fechado. Ele representa a direita, mas o partido segue tendo um nome colocado para a presidência, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado”, declarou.
Após o encontro com Flávio, Rueda e Ciro seguiram para uma reunião com Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Tarcísio não participou da conversa por irritação com o anúncio da família Bolsonaro, segundo aliados. Ao final, uma foto dos três dirigentes foi divulgada nas redes sociais de Pereira para reforçar a sintonia entre as legendas — gesto que não ocorreu na reunião com Flávio.
Flávio insiste: candidatura é "irreversível"
Apesar das resistências, Flávio Bolsonaro manteve o discurso de que sua candidatura está consolidada. O senador confirmou que ouviu questionamentos sobre a capacidade de “tração” de seu nome, mas rebateu as avaliações: “Eles se preocuparam com o meu nome, com base em pesquisas, de eu não tracionar. Meu nome está tracionado”, disse.
Flávio afirmou ainda ter recebido novamente do pai o aval político para seguir em frente: “Reforcei a eles que minha candidatura é irreversível e ouvi a mesma mensagem do meu pai, Jair Bolsonaro, na visita de hoje: é um movimento irreversível”.
A movimentação expõe um racha entre partidos que compõem o núcleo do centrão e evidencia a disputa por protagonismo na direita, cuja definição pode reconfigurar o tabuleiro eleitoral nos próximos meses.



