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Defesa tenta descartar prisão e delação de Vorcaro, que provoca pânico em Brasília

O temor de uma eventual delação premiada do controlador do Banco Master está disseminado por Brasília

Daniel Vorcaro (Foto: Reprodução/YouTube/CNN Brasil Money)

247 - Em análise publicada no O Estado de São Paulo nesta terça-feira (30), o jornalista Álvaro Gribel avalia que o movimento em torno do caso do Banco Master vai muito além da tentativa de reverter a liquidação da instituição financeira. Segundo o colunista, o objetivo central da defesa do banqueiro Daniel Vorcaro seria afastar o risco de prisão, fator que reduziria drasticamente a possibilidade de uma delação premiada com potencial de atingir figuras relevantes do cenário político em Brasília.

O texto interpreta o contexto institucional e político do processo e sustenta que esse desfecho interessaria a diversos atores do mundo político, justamente por neutralizar o risco de revelações comprometedoras. A análise destaca que o depoimento e a eventual acareação previstos devem ser explorados pela defesa como instrumentos para contestar a conclusão do Banco Central de que houve fraude na gestão do Banco Master.

Gribel observa que foi o enquadramento da conduta como gestão fraudulenta — crime mais grave — que levou à prisão de Vorcaro. A alternativa, a caracterização como gestão temerária, comum em processos de liquidação bancária, implicaria erros administrativos sem tipificação criminal. Por isso, a disputa jurídica se concentra na validade do diagnóstico técnico do Banco Central.

De acordo com a análise, o afastamento do risco penal teria um efeito imediato: eliminaria praticamente por completo a possibilidade de delação premiada, hipótese que, segundo o jornalista, provoca apreensão em setores do poder político. A estratégia da defesa, nesse contexto, seria desqualificar o trabalho do BC, que apontou a existência de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito consignado consideradas fraudulentas.

O colunista ressalta, porém, que profissionais familiarizados com a supervisão bancária consideram improvável um erro dessa magnitude por parte do Banco Central. A expectativa, conforme a análise, é que a autoridade monetária leve aos depoimentos um volume expressivo de documentos e dados técnicos, capazes de sustentar suas conclusões e limitar questionamentos tanto da defesa quanto do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro ponto abordado por Gribel é a preocupação do Banco Central com a condução do caso pelo ministro Dias Toffoli. A análise menciona decisões vistas como heterodoxas, como o sigilo imposto às investigações, a convocação de um diretor do BC para acareação em condição semelhante à dos investigados e a negativa de pedido da Procuradoria-Geral da República para revisão de medidas anteriores. O texto também registra um recuo parcial do ministro, ao permitir que a decisão final sobre a acareação fique sob responsabilidade de uma delegada da Polícia Federal.

A análise chama atenção ainda para a rapidez dos despachos de Toffoli, inclusive durante o recesso do Judiciário. Um equívoco terminológico em uma decisão — o uso de “sessão” em vez de “cessão” de títulos — é interpretado pelo jornalista como indício de pressa e possível falta de familiaridade com temas técnicos da supervisão bancária.

Por fim, Gribel relembra que a defesa de Vorcaro tentou transferir a relatoria do caso para o ministro Nunes Marques, pedido negado pelo presidente do STF, Edson Fachin, que determinou o sorteio que resultou na escolha de Toffoli. Na avaliação apresentada, o banqueiro não teria motivos para se queixar da condução do processo até o momento, enquanto o Banco Central vê seu papel institucional de guardião do sistema financeiro ser colocado em xeque no episódio.

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