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Lula cobra definição eleitoral de ministros e pressiona MDB e PSD por neutralidade em 2026

Presidente faz ultimato a ministros e partidos do centro para evitar alianças à direita na próxima disputa presidencial

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou a pressão sobre partidos que integram sua base de governo ao exigir uma definição clara sobre o posicionamento na eleição presidencial de 2026. O objetivo central do Planalto é assegurar, no mínimo, a neutralidade dessas legendas, evitando que ministérios e cargos federais sejam usados para sustentar alianças formais com a direita no próximo pleito. Nesse primeiro movimento, MDB e PSD aparecem como os principais alvos da estratégia, informa a Folha de São Paulo.

A cobrança foi feita por Lula durante a última reunião ministerial do ano, realizada na quarta-feira (17). Segundo aliados do presidente, o ultimato busca antecipar o realinhamento político antes que candidaturas de oposição se consolidem, sobretudo diante da possibilidade de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), entrar na disputa presidencial.

Durante o encontro, Lula deixou claro que 2026 marcará um ponto de inflexão para ministros e partidos aliados. Ao comparar seu governo com gestões anteriores, afirmou que o próximo ano representará um teste definitivo de fidelidade política. “Ano que vem é o ano em que a gente tem a oportunidade, não só porque estaremos em disputa, mas porque cada ministro, cada partido que vocês participam, vai ter que estar no processo eleitoral e vai ter que definir de que lado está. Será inexorável as pessoas definirem o discurso que vão fazer”, disse o presidente, classificando o momento como “a hora da verdade”.

Na sequência, os ministros Rui Costa (PT), da Casa Civil, e Fernando Haddad (PT), da Fazenda, apresentaram um balanço das ações do atual governo em contraposição à gestão de Jair Bolsonaro (PL), reforçando o discurso de diferenciação política que deve pautar a campanha. De acordo com auxiliares do presidente, a cobrança não se limitará aos ministros: ocupantes de cargos do segundo escalão também deverão ser avaliados, como forma de consolidar o apoio partidário nos estados.

A tarefa de mapear as indicações políticas desses cargos caberá à ministra Gleisi Hoffmann (PT), da Secretaria de Relações Institucionais. A partir desse levantamento, o governo poderá substituir quadros alinhados ao bolsonarismo por nomes mais próximos ao projeto de reeleição de Lula, usando as vagas como instrumento de articulação regional.

No campo da oposição, a indefinição sobre candidaturas é vista pelo Planalto como uma janela de oportunidade. A manutenção da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto é considerada um elemento que facilita a retomada de críticas ao governo de seu pai, derrotado por Lula em 2022. Paralelamente, articuladores governistas trabalham para fortalecer palanques estaduais e impedir que se forme uma aliança nacional robusta em torno de Tarcísio, apontado internamente pelo PT como o adversário mais provável do presidente.

No MDB, a situação é marcada por tensões internas. Embora a ala paulista do partido defenda apoio ao governador de São Paulo, acordos regionais podem empurrar a legenda para uma posição de neutralidade. Lula mantém influência em diretórios importantes, especialmente no Norte e Nordeste, como os de Pará, Alagoas, Maranhão e Ceará. Há ainda negociações específicas, como no Mato Grosso do Sul, onde o PT avalia abrir mão de uma candidatura ao Senado para apoiar a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), desde que ela não endosse publicamente a reeleição do governador local, hoje no PP e aliado de Bolsonaro.

Já no PSD, o esforço de neutralização passa diretamente pelo futuro político de Tarcísio e pelo papel do presidente da sigla, Gilberto Kassab, que integra o governo paulista. Kassab tem citado outros governadores, como Ratinho Júnior (PR) e Eduardo Leite (RS), como possíveis alternativas presidenciais caso Tarcísio não concorra. Internamente, o apoio a Flávio Bolsonaro no primeiro turno é descartado, mas cresce a avaliação de que, no máximo, o partido adotará uma neutralidade fragmentada, com posições distintas em cada estado.

Minas Gerais é frequentemente citado como exemplo dessas contradições. Apesar de o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) integrar o governo Lula, o PSD filiou o vice-governador Matheus Simões, aliado de Romeu Zema (Novo), e o lançou como pré-candidato ao governo estadual. Na Bahia, por outro lado, a expectativa é de alinhamento com o palanque petista.

Entre emedebistas, a leitura é de que o recado de Lula foi mais direcionado ao PSD, diante dos movimentos recentes de Kassab em favor de uma candidatura de Tarcísio. No MDB, a avaliação é de que a neutralidade já está praticamente definida, independentemente da posição formal da legenda, e que ministros do partido devem apoiar Lula individualmente.

No PT, a percepção é de que o cenário atual é mais favorável do que em 2022, quando o MDB lançou Simone Tebet à Presidência e o PSD permaneceu neutro nos dois turnos. “Acredito que na eleição de agora será maior o apoio, com a força que o governo tem”, afirmou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR). Para ele, a proximidade da eleição e a aprovação dos principais projetos no Congresso ampliam a margem de manobra do Executivo. “Nos primeiros anos da gestão, o governo exerceu essa força de forma mais singela, para evitar romper a relação”, completou.

Enquanto isso, Republicanos, PP e União Brasil mantêm a tendência de apoiar ou lançar candidaturas de oposição a Lula, mesmo ocupando espaços no governo. O PP afastou o ministro do Esporte, André Fufuca (MA), de cargos de direção, mas evitou um rompimento definitivo. Já o União Brasil expulsou o ministro do Turismo, Celso Sabino, embora siga controlando outros ministérios e estatais por meio de indicações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Em todos esses casos, o Planalto observa os movimentos com cautela, ciente de que a disputa de 2026 já começou nos bastidores.

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