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Tarcísio é pressionado a apoiar candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro, visto com desconfiança

Líderes da extrema-direita, como Malafaia, e partidos do Centrão discordam da estratégia de Jair Bolsonaro de lançar o filho na corrida presidencial

Tarcísio de Freitas e Flávio Bolsonaro (Foto: Pablo Jacob /Governo do Estado de SP | Jefferson Rudy/Agência Senado)

247 - O avanço do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nas pesquisas eleitorais reacendeu tensões no campo conservador e colocou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no centro de uma nova disputa política. Levantamento recente da Genial/Quaest mostrou o parlamentar mais competitivo do que governadores de direita em um eventual segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que intensificou cobranças para que Tarcísio assuma apoio explícito à pré-candidatura do filho de Jair Bolsonaro (PL), relata o jornal O Globo.

Apesar de já ter feito uma manifestação pública favorável a Flávio, o governador paulista indicou que outras candidaturas conservadoras também estão no radar e, desde então, evitou novas declarações sobre o tema, atitude considerada insuficiente por parte da base bolsonarista em São Paulo.

A cobrança mais direta veio do deputado estadual Gil Diniz (PL-SP). Em discurso na Assembleia Legislativa paulista, ele defendeu que Tarcísio seja mais enfático no apoio ao senador e chegou a sugerir um compromisso formal. “O meu pré-candidato à Presidência se chama Flávio Bolsonaro. Eu gostaria também que o governador fosse mais claro nas suas posições. Ele deu apoio público ao Flávio, mas eu gostaria, inclusive, que se possível ele assinasse um compromisso que aqui em São Paulo o senador Flávio Bolsonaro terá o maior palanque que qualquer presidenciável já viu”, afirmou.

O apelo ocorreu no mesmo dia em que a pesquisa Genial/Quaest apontou Flávio à frente de outros nomes da direita no primeiro turno, atrás apenas de Lula. Em um dos cenários, o senador apareceu com 23% das intenções de voto, contra 10% de Tarcísio, enquanto o presidente marcou 41%.

Apesar do desempenho, a alta rejeição ao nome de Flávio também alimenta resistência interna. Segundo o levantamento, 60% dos eleitores que conhecem o senador afirmam que não votariam nele, percentual superior ao registrado pelo governador paulista, que tem rejeição de 47%. Além disso, 54% consideram um erro o apoio de Jair Bolsonaro ao filho.

Essa leitura é compartilhada por lideranças como o pastor-empresário Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que criticou a pré-candidatura do senador e defendeu uma alternativa. “Eu não vi ninguém do governo Lula atacar Flávio (após o anúncio da pré-candidatura). Que coisa interessante. É como se dissessem: ‘É esse aí mesmo que nós queremos’. Uma chapa para ser combativa, para ganhar uma eleição, é Tarcísio e Michelle como vice”, disse em entrevista ao portal Metrópoles, ao argumentar que a ex-primeira-dama poderia atrair votos de mulheres, evangélicos e eleitores da direita.

A dificuldade de Flávio em ampliar alianças também preocupa dirigentes de partidos como PP, União Brasil, Republicanos e PSD. Desde o anúncio da pré-candidatura, integrantes do grupo buscam, sem sucesso, reverter o apoio de Jair Bolsonaro ao filho. Ainda assim, entre parlamentares bolsonaristas, há a avaliação de que Tarcísio acabará se engajando no projeto presidencial do senador, mesmo que esteja ganhando tempo para avaliar a viabilidade eleitoral.

Segundo a colunista Malu Gaspar, o governador tem dito a interlocutores que não pretende ser desleal ou ingrato com Bolsonaro, embora discorde do momento e da escolha do nome. Para o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), o alinhamento é inevitável. “O Tarcísio estará conosco (com o bolsonarismo), até porque ele também sabe que, sem o presidente Bolsonaro, ele corre um sério risco (em uma tentativa de reeleição) no estado de São Paulo. A base dele, apesar de ele fazer um governo de centro-direita, é uma base bolsonarista”, afirmou.

Os dados da Quaest reforçam o peso de Flávio entre eleitores identificados com o bolsonarismo. Em um cenário de segundo turno contra Lula, o senador alcança 91% das intenções de voto nesse grupo, enquanto Tarcísio soma 73%. A rejeição também é menor: 15% para Flávio, contra 51% do governador.

Outro deputado do PL, Paulo Mansur, acredita que o apoio explícito de Tarcísio virá no momento adequado. “Ele já demonstrou que apoiaria o Flávio. No momento certo, na hora certa, ele vai tomar essa atitude. E ele tem uma boa relação com o Flávio”, declarou. Um aliado próximo do governador compartilha a avaliação e prevê que, com os cenários mais claros, Tarcísio deverá se dedicar às pretensões nacionais do senador, salvo uma mudança significativa de rota que reative sua própria candidatura presidencial, hoje considerada em espera.

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