Presidente do FGC pondera mudanças após caso Master: “Talvez seja hora de dividir a conta de outro jeito”
Em entrevista, Daniel Lima avalia impacto da liquidação e defende que episódio abre espaço para discutir ajustes no sistema de garantias
247 - A liquidação do Banco Master desencadeou o maior acionamento de garantias já enfrentado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Segundo o NeoFeed, a operação deve demandar cerca de R$ 41 bilhões, podendo chegar a R$ 48 bilhões caso o Banco Master Múltiplo, onde está o Will Bank, também seja liquidado. Em entrevista publicada nesta terça-feira (28), o presidente do FGC, Daniel Lima, avaliou o impacto do episódio e afirmou que o caso deve abrir espaço para debates estruturais no sistema de proteção ao depositante.
Ainda de acordo com o NeoFeed, Lima afirmou que o fundo tem atualmente patrimônio de R$ 160 bilhões e liquidez imediata de R$ 122 bilhões, valores que permitem honrar todas as garantias acionadas. Ele ressaltou que, embora expressivo, o desembolso previsto representa “algo em torno de 30% das reservas”, percentual que não compromete a robustez do mecanismo.
Durante a entrevista, Lima reforçou a capacidade do FGC de lidar com o episódio. “O FGC nunca foi tão robusto também”, disse ao explicar que o caso não representa risco sistêmico. Ao comentar a situação do Master Múltiplo e do Will Bank, ele afirmou que uma eventual liquidação pode acrescentar “entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões” ao total a ser pago pelo fundo.
O presidente destacou que, após a fase operacional dos pagamentos, será necessário analisar detalhadamente o caso. “Vamos precisar entender o que pode ser ajustado no mecanismo para torná-lo perene”, afirmou. Segundo ele, o exame incluirá discussões com o Banco Central, o Conselho Monetário Nacional, bancos e instituições financeiras.
Um dos pontos mencionados por Lima foi o modelo de contribuição flat, pelo qual todas as instituições pagam o mesmo percentual sobre os depósitos cobertos. Ele afirmou que o formato pode precisar ser reavaliado. “Talvez seja hora de discutir outra forma de dividir a conta do restaurante”, disse, reforçando que se trata de uma discussão a ser conduzida no setor, não de uma revisão em curso.
Outro tema citado foi o teto de cobertura de R$ 250 mil por CPF e instituição. Lima reconheceu que a questão envolve incentivos relevantes, mas alertou que mudanças mal calibradas poderiam ser contornadas por estruturas financeiras. “Eu consigo imaginar facilmente estruturas de engenharia financeira que tornem a regra inócua”, afirmou.
Ele também reafirmou que o FGC não tem função formal de estimular competição bancária. “O FGC foi criado para evitar corrida bancária”, disse, ainda que reconheça efeitos indiretos sobre o ambiente concorrencial.
Sobre o cronograma de pagamentos, Lima explicou que o processo tem duas etapas. A primeira, conduzida pelo liquidante, envolve a coleta e consolidação dos dados dos credores, etapa que costuma levar entre 30 e 40 dias. A segunda, já sob responsabilidade do FGC, inicia os pagamentos em cerca de dois dias úteis após o recebimento da lista final.
Lima afirmou que não há urgência na recomposição das reservas após o desembolso relacionado ao Master. O fundo dispõe ainda de recursos adicionais no Fundo de Resolução, estimados em até R$ 30 bilhões. Ele também reiterou que os beneficiários devem indicar “qualquer conta de sua titularidade” para receber os valores, criticando campanhas de instituições que tentam direcionar essas escolhas.



