“É preciso dar um basta no crime organizado”, diz José Dirceu
O ex-ministro avalia que a resposta do Estado é insuficiente e que o governo federal precisa assumir a linha de frente no enfrentamento às facções
247 - O avanço do crime organizado no país foi o ponto central das críticas de José Dirceu durante sua participação no programa Boa Noite 247. Suas declarações se concentraram no diagnóstico de que o Estado brasileiro perdeu capacidade de reação e precisa redefinir, com urgência, sua estratégia nacional de segurança pública.
Segundo Dirceu, o Brasil vive um cenário que considera insustentável, marcado pelo crescimento econômico e territorial de facções e milícias em centros urbanos e regiões de fronteira. Ele destacou que essas organizações já operam como estruturas empresariais, com participação ativa em setores formais da economia. “O PCC é uma empresa que controlava motéis, restaurantes, padarias, postos de gasolina, fintechs, empresas que prestam serviços para governos”, afirmou.
Para o ex-ministro, essa expansão ocorreu em meio a uma resposta fragmentada e insuficiente por parte das instituições. Dirceu defendeu que o governo federal reassuma de forma integral sua atribuição constitucional no enfrentamento ao narcotráfico. “O governo federal tem que tomar frente, tem que ser o principal ator na luta contra o narcotráfico, porque é um crime internacional”, disse.
Ao avaliar a recente ofensiva legislativa sobre segurança pública, Dirceu afirmou que mudanças aprovadas pela Câmara criam interpretações imprecisas e podem abrir brechas favoráveis a contestações judiciais. “Isso favorece o crime organizado”, declarou, ao criticar propostas que classificou como inconsistentes.
Ele também atribuiu a governos estaduais parte da responsabilidade pelo fortalecimento de grupos armados. Dirceu afirmou que houve enfraquecimento da Polícia Civil paulista e que milícias cresceram com apoio político em gestões anteriores. “Quem criou as milícias foi o bolsonarismo. Quem dava medalhas pros milicianos, quem defendia que era necessário para proteger as famílias”, disse.
Ao comentar operações como a Carbono, Dirceu avaliou que as investigações revelam o nível de infiltração do crime no sistema financeiro. Ele citou a apuração sobre movimentações bilionárias do Banco Master, embora tenha deixado claro que não há elementos conclusivos. Ainda assim, questionou a fiscalização monetária. “Como é que foi possível o Banco Master fazer tudo isso? Onde estava a fiscalização do Banco Central?”, afirmou.
Dirceu também alertou para discursos que associam facções ao narcoterrorismo, argumentando que essa classificação poderia abrir margem para interferências externas. Ele citou setores alinhados ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que defendem essa agenda.
Para o ex-ministro, a solução estrutural passa por uma política nacional contínua, com fortalecimento da Polícia Federal, reorganização das competências e ações coordenadas. Ele afirmou que a população exige respostas efetivas e rejeita tanto a violência cotidiana quanto medidas simbólicas que não reduzem o poder das facções. “Tem que dar um basta nisso”, concluiu.



