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Alysson Mascaro lota livraria Leonardo da Vinci, no Rio, em lançamento de Crítica do Cancelamento

Alvo de lawfare, o jurista recebeu a solidariedade de juristas, intelectuais, jornalistas e leitores ao lançar uma densa reflexão sobre o cancelamento

Alysson Mascaro lança Crítica do Cancelamento no Rio de Janeiro (Foto: Brasil 247)

247 – O jurista e filósofo Alysson Leandro Mascaro lotou, na noite desta quarta-feira (10), a livraria Leonardo da Vinci, no centro do Rio de Janeiro, durante o lançamento de seu novo livro Crítica do Cancelamento, lançado pela Contracorrente e pela Editora 247. 

O evento, que contou com palestra do autor, marcou sua primeira aparição pública em uma livraria desde o processo de cancelamento que tentou silenciar uma das vozes mais influentes do pensamento crítico brasileiro. 

Há 15 dias, o livro foi lançado em São Paulo, também com grande sucesso, na Casa de Portugal.

A volta de Mascaro

Em sua fala, Mascaro emocionou o público ao afirmar:

 “O que esperavam de mim? Que eu desabasse e morresse. Não esperavam que o morto voltasse.”

Ele acrescentou:

 “Do mal que fazem contra nós, é deste mal que se faz a cura. Fizeram um processo de cancelamento, mas erraram o alvo. Abraçarei ainda mais pessoas.”

O jurista também evocou a célebre frase de Giordano Bruno, perseguido pela Inquisição:

 “Mais vai custar a vocês a decisão de me condenar do que a mim ouvi-la.”

Ao final de sua fala, Mascaro foi ovacionado pelo público presente.

Apoio e solidariedade

Mascaro recebeu o apoio de nomes importantes do meio jurídico, intelectual e jornalístico, entre eles os juristas Nélio Machado, Rubens Casara e Jorge Folena; as jornalistas Hildegard Angel, Denise Assis, Regina Zappa, os colunistas André Constantine, Reynaldo Aragon e Ricardo Nêggo Tom; os psicanalistas Luciano Elia e Mônica Silva; o professor Luiz Felipe Osório; além de centenas de leitores que lotaram o espaço.

O evento simbolizou não apenas o lançamento de uma obra, mas também um ato de solidariedade e resistência diante do lawfare e do cancelamento que o jurista vem enfrentando. Em sua fala, advogada Fabiana Marques, apontou a absoluta falta de provas no processo em curso na Universidade de São Paulo.

O caso de lawfare e perseguição

Há cerca de um ano, o site estadunidense The Intercept publicou uma reportagem com denúncias anônimas, e sem provas, que acusavam Mascaro de assédio sexual, questionando também a sua sexualidade. Até hoje, as acusações seguem anônimas, sem que jamais Mascaro tenha sido alvo de qualquer processo criminal por assédio.  

Mesmo tendo sido amplamente criticada por sua falta de fundamentos, a reportagem inconsistente deu origem a um processo administrativo interno na USP que pode resultar em sua demissão — decisão prevista para ser tomada pela Congregação da Faculdade de Direito nesta quinta-feira (11).

Alysson Mascaro, um intelectual abertamente marxista, e que foi forçado a revelar sua bissexualidade após a agressão jornalística, tem sido alvo de perseguição ideológica e também de homofobia. O episódio é visto como parte de uma ofensiva do imperialismo contra intelectuais de esquerda, fenômeno que recentemente também atingiu o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o ex-ministro Silvio Almeida.

O lançamento e as editoras

O livro Crítica do Cancelamento foi publicado pela Editora Contracorrente, de Rafael Valim, em parceria com a Editora 247, dirigida por Leonardo Attuch. 

Durante o evento, Attuch afirmou que a acusação contra Mascaro “foi um dos maiores crimes jornalísticos já cometidos na história do Brasil”, ressaltando que “os responsáveis são incapazes de defendê-la publicamente e esperam justificá-la não pela comprovação da reportagem em si, mas a partir de uma eventual decisão pela demissão de Mascaro”.

A crítica filosófica ao cancelamento

Em Crítica do Cancelamento, Mascaro analisa o fenômeno do cancelamento para além da moral e das redes sociais. Ele o interpreta como uma nova forma de controle social e de imposição de colapso subjetivo, típica do capitalismo contemporâneo. Segundo o autor, sob o disfarce de justiça e progresso, o cancelamento converte as lutas por gênero, raça e orientação sexual em instrumentos de reprodução da sociabilidade liberal, esvaziando seu potencial emancipatório.

O jurista defende que a libertação real só pode advir da transformação estrutural da sociedade — e não de correções morais superficiais. “O cancelamento é a negação do outro em nome da pureza, mas é a própria lógica capitalista que o sustenta”, escreve Mascaro.

Sobre o autor

Alysson Leandro Mascaro é advogado, professor, doutor e livre-docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito. Autor de obras fundamentais como Filosofia do Direito, Estado e Forma Política, Crise e Golpe e Crítica do Fascismo, é considerado uma das principais referências do pensamento marxista contemporâneo. Seus livros são publicados em diversos países.

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