Confiança do consumidor avança com inflação sob controle e emprego em alta, diz FGV
Índice da FGV sobe em dezembro, impulsionado por expectativas mais favoráveis, apesar de cautela com endividamento, juros altos e incertezas políticas
247 - A combinação entre inflação mais comportada e um mercado de trabalho ainda aquecido sustentou a melhora da confiança do consumidor brasileiro em dezembro, reforçando a expectativa de uma recuperação gradual ao longo do primeiro trimestre. A avaliação reflete o desempenho recente dos principais indicadores econômicos, que seguem influenciando de forma direta a percepção das famílias sobre o futuro.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), em reportagem publicada pelo Valor Econômico, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) avançou 0,4 ponto em dezembro, alcançando 90,2 pontos. Trata-se do maior patamar desde dezembro de 2024, quando o índice havia registrado 91,3 pontos, marcando ainda a quarta alta consecutiva.
A economista Anna Carolina Gouveia, responsável pelo indicador na FGV Ibre, atribui o resultado principalmente à solidez do mercado de trabalho e ao alívio inflacionário. “O mercado de trabalho ainda está forte, com mínimas históricas de desemprego, e adicionalmente há alívio na inflação como um todo e na inflação de alimentos em particular. Esses dois fatores ajudaram na melhora da confiança”, afirma.
O avanço do ICC em dezembro foi sustentado exclusivamente pela melhora das expectativas dos consumidores em relação aos próximos meses. O Índice de Expectativas (IE) subiu 1,4 ponto, para 95,2 pontos, o nível mais elevado desde dezembro de 2024, quando havia alcançado 97,6 pontos. Já o Índice de Situação Atual (ISA) apresentou recuo de 1,4 ponto, para 83,4 pontos, interrompendo uma sequência de duas altas.
Entre os componentes do IE, houve leve avanço na avaliação sobre a situação financeira futura da família, que subiu 0,1 ponto, para 93,0 pontos. As intenções de compra de bens duráveis também melhoraram, com alta de 0,3 ponto, chegando a 84,9 pontos. O destaque ficou para o indicador de situação econômica local futura, que avançou 3,6 pontos, atingindo 108,3 pontos, o maior nível desde setembro de 2024.
Na avaliação da situação atual, o movimento foi inverso. O indicador de situação econômica local no presente recuou 1,7 ponto, para 94,1 pontos, enquanto a percepção sobre a situação financeira atual das famílias caiu 1,0 ponto, para 73,1 pontos.
Gouveia observa que o fortalecimento das expectativas também está relacionado ao impacto das novas faixas de isenção do Imposto de Renda. De acordo com ela, essa medida tem peso maior na confiança do consumidor do que a perspectiva de redução da taxa básica de juros. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano. “Embora se espere a queda dos juros ao longo do ano, a taxa continuará elevada e pressionando o pagamento de dívidas”, destaca. A economista ressalta ainda que o nível de endividamento e inadimplência permanece alto. “O consumidor ainda não está otimista”, completa.
Para o início de 2026, a avaliação segue marcada por incertezas. Apesar da possibilidade de continuidade na recuperação da confiança e de uma redução do pessimismo, Gouveia pondera que o cenário é complexo. “É difícil saber se o saldo será positivo ou negativo. O mercado de trabalho está bom, a inflação controlada e tem a boa notícia do Imposto de Renda. Mas a inadimplência segue elevada e haverá eleições em 2026, que gera instabilidades políticas”, afirma.
Segundo ela, o processo eleitoral pode gerar efeitos ambíguos sobre o comportamento do consumidor. “Por um lado, a eleição deixa o consumidor mais cauteloso, mas por outro pode ter injeção de recursos na economia, com maior consumo e maior confiança.” A economista também chama atenção para as previsões de desaceleração da atividade econômica no próximo ano, o que tende a limitar avanços mais robustos do indicador. “Mesmo com a expectativa de que a desaceleração da economia não seja tão forte, ainda assim é uma desaceleração”, conclui.



