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Pagamento antecipado de dividendos pode pressionar a cotação do real

Saída de dólares se intensifica no fim do ano e amplia a volatilidade do câmbio

Pagamento antecipado de dividendos pode pressionar a cotação do real (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

247 – O mercado financeiro brasileiro iniciou dezembro em estado de alerta diante do avanço das remessas de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) ao exterior, que podem gerar pressão adicional sobre a cotação do real. As informações foram publicadas pelo Valor Econômico, que registrou os primeiros sinais de impacto do fluxo cambial sobre o dólar já na última sexta-feira.

Segundo a reportagem, mesmo antes dos ruídos provocados pela pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência, operadores já observavam relatos de saída de dólares durante a manhã do pregão. Esse movimento fez o dólar se descolar de outras moedas de países emergentes: após abrir em queda, a divisa americana passou a subir e, com o agravamento das tensões políticas, saltou de R$ 5,30 para R$ 5,48 no meio da tarde.

Um gestor de moedas confirmou que “está sendo, de fato, o primeiro dia em que está ocorrendo uma saída por dividendos”. A XP criou inclusive um monitor diário de fluxo potencial de remessas e estima que, desde o fim de outubro, já foram anunciados R$ 56,3 bilhões em dividendos extraordinários e JCP. A corretora calcula que 65% desse total pertence a investidores estrangeiros e pode, portanto, deixar o país. Só em dezembro, devem ser pagos R$ 22,9 bilhões — o equivalente a US$ 4,3 bilhões.

Impactos da legislação e incertezas sobre o fluxo cambial

O estrategista-chefe da BTG Pactual Asset Management, Tiago Berriel, avalia que o mercado opera sob apreensão. Ele afirma: “Não é muito claro como essa mudança na legislação deveria afetar o fluxo neste fim de ano, até porque foi aprovada, no Senado, uma extensão de prazo que limitaria o impacto, mas, sob incerteza, talvez as pessoas ajam. Na dúvida, pode ser que exista uma demanda adicional por fluxo [de saída]”.

Ex-diretor do Banco Central, Berriel pondera que parte dos efeitos pode ter sido antecipada e que a sazonalidade típica de fluxo negativo no fim de ano não necessariamente se transforma em forte volatilidade cambial. “Não acredito que teremos uma fonte de volatilidade muito grande, porque é algo antecipável. O problema é quando se tem muito fluxo e o fundamento está apreendendo alguma notícia fiscal ruim ou condições de política monetária, mas não há nada nessa linha.”

Gestores mantêm postura defensiva e apostam contra o real

A gestora Occam tem operado desde outubro com posição vendida em real contra o peso chileno, refletindo preocupações com o fluxo cambial. O gestor de moedas Fernando Chibante afirma que o cenário permanece desafiador: “O fluxo segue negativo. Foram US$ 7 bilhões em saída no último mês e a atenção, agora, fica basicamente no que vai acontecer ao longo do mês de dezembro”.

Chibante recorda que dezembro de 2024 foi marcado por forte estresse cambial, com saída recorde de US$ 26,4 bilhões e intervenção de US$ 21,6 bilhões pelo Banco Central. “É um mês para ficarmos atentos em relação aos próximos desdobramentos na parte de fluxo”, alerta.

O cenário, portanto, combina fatores domésticos e externos: expectativa de remessas expressivas de dividendos, sensibilidade política às eleições de 2026 e memória recente de forte estresse cambial. Esses elementos reforçam o ambiente de volatilidade e exigem monitoramento contínuo do fluxo financeiro às vésperas do fechamento do ano.

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