Passivos do Master já somam R$ 56 bilhões
Rombo exposto após a liquidação do banco de Daniel Vorcaro inclui garantias bilionárias do FGC, repasses do BRB e riscos elevados em ativos ruins
247 – A liquidação do Banco Master continua revelando um cenário de profundos desequilíbrios financeiros e possíveis fraudes estruturais. Desde que o Banco Central decretou a liquidação da instituição, na terça-feira, 18, os passivos conhecidos já ultrapassam R$ 56 bilhões, segundo levantamento publicado pelo jornal Estado de S. Paulo.
O impacto imediato mais expressivo recai sobre o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que calcula ter de desembolsar ao menos R$ 41 bilhões para cobrir depósitos e aplicações de pessoas físicas – valor que pode chegar a R$ 49 bilhões. Além disso, o Banco de Brasília (BRB) repassou R$ 12,2 bilhões ao Master nos primeiros meses de 2024, conforme aponta a Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, em transações envolvendo carteiras de crédito que teriam sido fabricadas de maneira fraudulenta.
Repercussões entre fundos de pensão e empresas privadas
A crise também atinge fundos de previdência de servidores estaduais e municipais, que detêm R$ 1,9 bilhão em títulos emitidos pelo banco. Empresas privadas somam outros R$ 960 milhões em papéis ligados ao Master. Procurada pelo jornal, a instituição não se manifestou até a publicação da reportagem.
A sede do banco, em São Paulo, tornou-se alvo de buscas da PF no mesmo dia da liquidação e foi cercada por grades, símbolo da intervenção federal sobre o grupo comandado por João Baptista de Lima e Silva Vorcaro, preso pela PF quando tentava deixar o País.
Ativos inflados, auditoria em alerta e suspeitas de fraude
Embora o passivo revelado seja elevado, especialistas alertam que não é possível estimar com precisão o tamanho do rombo final. O próprio banco declarou possuir R$ 63 bilhões em ativos em suas demonstrações de 2024. No entanto, o documento veio acompanhado de uma série de ressalvas da auditoria KPMG.
Os auditores destacaram dificuldades na mensuração do valor de mercado de fundos de investimento, direitos creditórios e precatórios, além de operações societárias. Segundo o relatório, parte relevante dos fundos do Master investia em ativos “que não são ativamente negociados no mercado”, o que aumenta o risco de distorções significativas nos valores apresentados.
Após análises técnicas, a KPMG afirmou ter considerado “aceitável” a mensuração realizada, mas manteve os alertas sobre a opacidade dos ativos.
Especialista: “Já se sabe que há ativos que não existiam”
Para Luiz Santacreu, analista da Austin Ratings, o caso é ainda mais grave do que apontam os números preliminares. “Já se sabe que há ativos que não existiam, o que configura fraude, e há ativos que sofrerão uma venda forçada para pagar os credores, o que tende a reduzir seu valor”, afirmou.
Segundo ele, como parte substancial da carteira era formada por ativos não líquidos, “há grandes chances que o tamanho deles não seja equivalente ao dos passivos”.
Entre os ativos considerados problemáticos pelos auditores estão R$ 19,5 bilhões em fundos de investimento e R$ 8,7 bilhões em precatórios e direitos creditórios. Também foi incluído como assunto relevante o risco de crédito, que acumulava perdas esperadas de R$ 579 milhões. Na mesma categoria apareciam ganhos decorrentes da compra vantajosa de Voiter e Letsbank, avaliados em R$ 536 milhões.
Credores devem sofrer perdas
Santacreu também projetou impactos diretos sobre quem aplicou recursos no Master: “O valor final desta conta será apresentado pelo interventor. Mas é possível dizer que os credores, sejam portadores de letra financeira ou depositantes, tendem a receber menos do que investiram”, afirmou.
Com a investigação ainda em curso e a consolidação dos dados nas mãos do interventor nomeado pelo Banco Central, o caso Master se torna um dos episódios mais graves do sistema financeiro brasileiro em décadas, com potencial para gerar perdas bilionárias e abalar a confiança no mercado de crédito privado.



