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Selic deve cair a 11,25% em 2026, projeta Capital Economics

Consultoria avalia que cortes serão mais profundos que o previsto pelo mercado e que, mesmo assim, juros seguirão restritivos

Sede do Banco Central em Brasília (Foto: Reuters/Adriano Machado)

247 - A consultoria britânica Capital Economics projeta que a taxa básica de juros, a Selic, deve cair mais do que o mercado hoje antecipa e encerrar 2026 em 11,25% ao ano, abaixo do consenso em torno de 12%. A avaliação é de que o cenário predominante é “conservador demais” e que há espaço para um ciclo de afrouxamento mais profundo do que o precificado atualmente pelos agentes financeiros.

As conclusões constam de relatório divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em análise assinada por Gustavo Nicoletta, com base em modelos próprios da Capital Economics para estimar a trajetória da Selic. Segundo a consultoria, mesmo em 11,25% ao ano, a política monetária continuaria restritiva, com juros reais entre 7,5% e 8,0%, acima do nível considerado neutro.

No documento, a Capital Economics lembra que o mercado tem histórico recente de subestimar a intensidade dos ciclos de corte da taxa básica. “Vale notar que o mercado já subestimou a escala dos cortes de juros no início de três dos últimos quatro ciclos de afrouxamento”, afirma a consultoria.

Um dos modelos utilizados pela casa para estimar o nível “compatível” da Selic combina variáveis como núcleo da inflação, taxa de juros dos Estados Unidos, taxa de câmbio e prêmio de risco do Brasil, medido pela diferença (spread) das taxas dos títulos soberanos denominados em dólar em relação a papéis de referência. Segundo o relatório, esse modelo vinha sendo um bom guia aproximado para o patamar dos juros até meados de 2024.

A partir de então, porém, a relação foi rompida. Naquele momento, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic mesmo quando o modelo apontava para estabilidade. A decisão coincidiu com a deterioração da percepção sobre o quadro fiscal e com questionamentos em torno da independência do Banco Central. Para a Capital Economics, esse movimento teve menos relação com um repique imediato da inflação e mais com a necessidade de reafirmar a credibilidade da autoridade monetária.

No relatório, a consultoria avalia: “Isto sugere que o Comitê de Política Monetária aumentou os juros agressivamente desde meados de 2024 não por causa de uma deterioração severa na dinâmica da inflação no curto prazo, mas para garantir sua credibilidade junto aos investidores e para conter as expectativas de inflação de longo prazo. Sob esta premissa, a Selic pode estar 400 pontos-base acima do nível justificável pela economia atualmente, pelo menos de acordo com a relação histórica com os dados macroeconômicos”.

Mesmo apontando que a Selic estaria hoje acima do nível sugerido pelos fundamentos, a Capital Economics ressalta que o Banco Central tem razões para ser cauteloso na condução da política monetária e na velocidade dos cortes. A consultoria cita, em especial, a combinação de fragilidade fiscal com inflação ainda distante da meta.

“O Brasil não superou seus problemas fiscais e de inflação. O déficit orçamentário do governo ainda está perto de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e a possibilidade de uma onda de gastos na eleição do ano que vem deve ser um risco na mente do Banco Central. E a inflação está bem acima da meta de 3% (4,7% em outubro)”, afirma o relatório.

Na avaliação da casa, esse quadro ajuda a explicar por que o Copom levou a taxa a um nível que, pelos modelos, pareceria excessivamente alto, mas que, na prática, responde ao desafio de ancorar expectativas de inflação num ambiente de incerteza fiscal e eleitoral. Assim, mesmo com a projeção de Selic em 11,25% ao ano ao fim de 2026, a Capital Economics avalia que o país seguirá convendo com juros reais elevados, em terreno restritivo, por mais tempo.

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