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“A China é mais democrática do que Brasil e Estados Unidos”, diz Elias Jabbour

Para Jabbour, sistema político chinês incorpora mecanismos de participação direta e impede ascensão de aventureiros. Assista à entrevista na TV 247

Lula, Donald Trump, Xi Jinping e Elias Jabbour (Foto: ABR/REUTERS)

247 - O professor de economia da UERJ Elias Jabbour avaliou, em entrevista à TV 247, as diferenças fundamentais no funcionamento político da China em relação às democracias liberais ocidentais.

No contexto da nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, assinada pelo presidente daquele país, Donald Trump, Jabbour considera que a doutrina classifica a China como rival estratégico e reposiciona Washington para conter a crescente influência global de Pequim.

O especialista em assuntos chineses afirmou que há um equívoco recorrente nas leituras ocidentais sobre o sistema político chinês. “Com relação à democracia e ditadura, eu vou falar aqui: é um sistema político mais democrático que o do Brasil e dos Estados Unidos”, declarou. Para ele, esse caráter democrático se manifesta em práticas de participação direta, mecanismos de escuta social e um modelo de seleção de quadros públicos baseado em trajetória e desempenho, não em popularidade momentânea.

Jabbour detalhou como funciona o processo de escolha de representantes e a elaboração de políticas de longo prazo. Um dos exemplos citados foi a construção do 15º Plano Quinquenal, que incorporou milhares de sugestões vindas das comunidades locais.

Foram mais de 3.000 anotações que foram aprovadas da base”, afirmou, ao explicar que propostas enviadas por trabalhadores, aldeias e conselhos locais são consolidadas e encaminhadas ao planejamento nacional.Ele também descreveu o papel dos deputados chineses, cuja rotina é distinta daquela observada no Brasil. “Um deputado federal na China é eleito na base da aldeia. Ele fica somente duas vezes por semana em Pequim… o resto do tempo ele fica na base e ele só pode ser cassado pela base e não pelos seus pares”, afirmou. Segundo Jabbour, essa estrutura aumenta a rotatividade no Parlamento e cria um vínculo permanente entre representantes e suas comunidades.Para o professor, trata-se de um modelo que produz líderes com maior experiência e contato direto com as demandas sociais. “É o desempenho na base que vai habilitando as pessoas para irem subindo nos postos do Estado”, explicou.

Esse percurso, segundo ele, impede que figuras sem histórico público consistente ascendam rapidamente a cargos de alta responsabilidade.

Ao caracterizar a China como uma “democracia não liberal”, Jabbour chamou atenção para o desenho institucional que, em sua avaliação, protege o país de crises políticas semelhantes às observadas em democracias ocidentais. Ele argumenta que o sistema chinês desestimula a emergência de lideranças improvisadas ou alimentadas por polarização. “Um Bolsonaro, por exemplo, nunca chegaria ao governo da China, não chegaria em lugar nenhum na China — ou Trump, ou um Pablo Marçal”, afirmou. Assista:

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