Genoino: O PT é alvo e o compadrio parlamentar não pega bem
Ex-presidente do PT critica condução do Senado na dosimetria e defende autonomia partidária diante da pressão da direita
247 - A aprovação do projeto que altera a dosimetria das penas para crimes contra a democracia no Senado revelou, segundo o ex-presidente nacional do PT José Genoino, um erro político grave da bancada petista e expôs o partido a uma ofensiva articulada da direita e da extrema direita. Para ele, o episódio evidencia os limites do compadrio parlamentar em temas que envolvem princípios estruturais do campo democrático.Em entrevista ao programa Bom Dia 247, Genoino avaliou que o PT foi colocado no centro de uma operação política destinada a legitimar um “acordão” e a enfraquecer a mobilização popular em defesa da democracia. Ele alertou que, em um contexto de pré-campanha eleitoral, o partido se tornou alvo preferencial de ataques que buscam atingir, por tabela, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Genoino afirmou que a forma como a proposta avançou no Senado distorceu o sentido da defesa democrática. “A dosimetria, além de ter sido tratada de maneira açodada, porque o processo nem terminou, ela significa uma intervenção e uma classificação de que o crime contra a democracia é menor do que outros crimes”, declarou. Para ele, esse ponto representa um equívoco central, ao relativizar a gravidade de ataques ao regime democrático.
Na avaliação do ex-dirigente petista, houve falhas políticas evidentes na atuação da bancada. “Quando você está numa batalha dessa importância estratégica, você leva toda a sua turma para lá, todo mundo presente”, disse, ao criticar ausências e a falta de uma ação coordenada no momento decisivo da votação. Ele sustentou que a fragilidade abriu espaço para que adversários “tentassem legitimar o acordão botando o PT dentro da roda”.
Genoino também foi direto ao criticar a lógica de bastidores que permeou o episódio. “Esse compadrio parlamentar não pega bem. Eu acho que o PT é alvo”, afirmou. Segundo ele, a experiência política acumulada por lideranças do partido deveria ter servido para antecipar o desgaste e impedir que o partido fosse associado a uma negociação que fere valores históricos da esquerda.
Ao analisar o cenário mais amplo, Genoino destacou que a pressão não se limita ao Congresso. Ele mencionou a atuação dos Estados Unidos no contexto internacional e afirmou que houve movimentações para sinalizar apoio à dosimetria após a revogação de medidas relacionadas à Lei Magnitsky. Na entrevista, ele citou Donald Trump, ao avaliar que “o Trump não quer jogar no mar essa extrema direita” e que a geopolítica norte-americana tende a interferir de forma constante nas disputas políticas da América Latina.
Para o ex-presidente do PT, a resposta correta passaria por uma postura mais firme do partido, preservando o governo. “Por isso que eu defendo que o PT em determinadas questões fique autônomo do governo para fazer coisas que o governo não pode fazer”, afirmou. Ele avaliou que, nesse caso, o partido deveria ter assumido a linha de frente do enfrentamento, enquanto o presidente Lula manteria a posição institucional de veto ao projeto.
Genoino concluiu que a tentativa de reduzir o impacto dos crimes ligados ao golpe de 2023 repete uma tradição da política brasileira de acordos “pelo alto”, que preservam os responsáveis e desmobilizam a sociedade. Para ele, a defesa da democracia não pode ser objeto de barganha: “Tem coisa que você não negocia. Se não é a democracia, eu não vou negociar”. Assista:



