"Mercado já prevê queda dos juros em 2026", diz Guilherme Mello
Secretário de política econômica detalha impactos da isenção do IR, avalia tarifaço de Trump e destaca solidez da economia brasileira
247 – O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que o mercado financeiro já projeta redução da taxa básica de juros em 2026, impulsionada pela queda da inflação e pelo ambiente econômico mais estável. As declarações foram feitas em entrevista ao Giro das 11, da TV 247.
Nos primeiros minutos da conversa, Mello comentou os efeitos da reforma do Imposto de Renda sancionada pelo presidente Lula e destacou a potência distributiva da medida, além de creditar suas análises ao diálogo técnico mantido no governo.
Isenção do IR para até R$ 5 mil injeta até R$ 30 bilhões
Segundo o secretário, o novo modelo do Imposto de Renda — que isenta trabalhadores que ganham até R$ 5 mil e reduz a alíquota para quem ganha até R$ 7.350 — representa uma mudança estrutural tanto para o consumo quanto para a justiça tributária no país.
Mello enfatizou: “O imposto de renda zero para quem ganha até R$ 5.000 e o imposto de renda reduzido para quem ganha até R$ 7.350 significam duas coisas. Em primeiro lugar, mais dinheiro na mão do trabalhador”. Ele descreveu o ganho extra como um “14º salário” para milhões de brasileiros que, frequentemente, fecham o mês no vermelho.
O impacto estimado é de R$ 25 a R$ 30 bilhões injetados diretamente na economia já em 2025. O secretário também explicou que o aumento de arrecadação entre os super-ricos compensa a renúncia fiscal: “Você vai injetar entre 20 e 30 bilhões e vai retirar entre 20 e 30 bilhões. Só que você tá injetando na mão de quem precisa e consome e tirando da mão de quem não precisa e não consome.”
Ele reforçou o chamado “efeito multiplicador”, consagrado na teoria econômica: recursos na base da pirâmide retornam rapidamente ao ciclo produtivo, fortalecendo comércio, serviços e a indústria.
Política distributiva e a visão econômica do presidente Lula
Mello destacou a sensibilidade econômica do presidente Lula: “Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de renda; pouco dinheiro na mão de muitos é crescimento e distribuição de renda.”
O secretário lembrou que essa lógica é validada historicamente e orienta políticas como a expansão do Bolsa Família, que também apresenta forte efeito multiplicador.
Tarifaço de Trump: impactos, reação do governo e reversões
A entrevista também abordou o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump, que atualmente lidera os Estados Unidos. Mello revelou bastidores da reação diplomática e técnica do governo brasileiro.
Apesar de o Brasil ter sido inicialmente classificado como país com baixa tarifação, Washington aplicou uma tarifa adicional de 40% a parte da pauta exportadora brasileira por motivações políticas.
Mello relatou: “A tarifa de 40% incidia sobre um conjunto limitado em torno de 30% a 40% da pauta exportadora brasileira.”
Mas o impacto real acabou recaindo sobre consumidores norte-americanos. Produtos brasileiros como carne e café, essenciais ao mercado interno dos EUA, ficaram mais caros, pressionando a inflação local.
Segundo o secretário, isso levou o governo Trump a recuar e retirar tarifas inclusive abaixo dos 10% originais, para todos os países, a fim de evitar novos aumentos de preços. Ele reforçou que o Brasil manteve e até ampliou exportações ao realocar produtos para outros mercados.
Mello explicou ainda que os diálogos conduzidos pelo ministro Mauro Vieira, pelo ministro Fernando Haddad e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin foram decisivos, culminando no encontro entre Lula e Trump: “Nós estamos trabalhando para reduzir ainda mais e eventualmente eliminar completamente essa tarifação que não tem nenhum sentido econômico.”
Abertura comercial e acordo Mercosul–União Europeia
Contrariando críticas de que o governo seria “protecionista”, Mello destacou que Lula é “o presidente que mais abriu mercados no mundo para produtos brasileiros”.
Ele também afirmou que o Brasil está próximo de concluir o maior acordo comercial de sua história, o tratado Mercosul–União Europeia, ressaltando que o país quer negociar com todas as regiões, respeitando seus próprios interesses e competitividade.
Indicadores econômicos positivos: inflação, emprego e investimentos
O secretário descreveu um quadro econômico sólido:
- Inflação em trajetória descendente — deve fechar 2024 abaixo de 4,5%, contra previsão inicial de 5,5%.
- Pleno emprego — menor taxa de desemprego da série histórica.
- Massa salarial recorde.
- Retomada do investimento, com expectativa de maior volume da história em infraestrutura, segundo a ABDIB.
- Investimento estrangeiro direto em níveis recordes.
- Bolsa de valores em alta.
Sobre juros, Mello foi categórico: “O mercado financeiro fala que a inflação vai cair e que a taxa de juros vai cair ano que vem. As duas coisas vão cair.”
O papel de Lula: cobrança permanente e entregas aceleradas
Mello destacou o rigor do presidente na cobrança por resultados e soluções criativas:
“Ele sempre está nos cobrando, nos pressionando por soluções, por pensar fora da caixinha.”
Segundo ele, a isenção do IR até R$ 5 mil, promessa de campanha, exigiu anos de desenho técnico até ser aprovada por unanimidade no Congresso — inclusive pela oposição.
PL do Senado sobre aposentadoria de agentes de saúde
Questionado sobre o projeto aprovado no Senado que pode gerar impacto de R$ 24 bilhões em dez anos, Mello reforçou que políticas meritórias precisam de responsabilidade fiscal.
“O STF decidiu que o Congresso também tem que ter responsabilidade fiscal. Quando aprova um projeto desse tipo, tem que falar de onde vem a fonte de recursos.”
O governo busca diálogo com o Legislativo, mas não descarta judicialização caso não haja compensações, conforme exigência constitucional.
Riscos externos e atuação brasileira
Apesar da solidez interna, Mello alertou para incertezas externas: guerras, tensões geopolíticas e ações unilaterais dos Estados Unidos na América Latina, especialmente relacionadas à Venezuela.
Ele destacou a importância do Brasil como mediador e o peso da reaproximação Lula–Trump para soluções menos conflituosas: “A diplomacia brasileira tem competência e profissionalismo para reduzir riscos e construir caminhos.”



