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“Não dá pra gente estabelecer tapete vermelho para o imperialismo”, diz Genoino

José Genoino analisa a estratégia dos Estados Unidos na desestabilização da América Latina e defende integração regional

“Não dá pra gente estabelecer tapete vermelho para o imperialismo”, diz Genoino (Foto: Divulgação)

247 - A desestabilização da América Latina foi apresentada por José Genoino como parte de uma estratégia de poder dos Estados Unidos, articulada em meio a crises em várias regiões do mundo. Para o ex-presidente nacional do PT, a região deve ser tratada como prioridade da política externa brasileira e colocada no centro de um projeto de paz, autodeterminação e integração entre os países do continente.

As declarações foram dadas por José Genoino em entrevista ao programa Bom Dia 247, da TV 247, ao comentar a ofensiva política e econômica de Washington sobre a América Latina e as ameaças direcionadas a países como Venezuela e Colômbia. Ao longo da conversa, ele vinculou esse movimento a uma dinâmica global de crise do imperialismo americano e à atuação do que chamou de trumpismo na cena internacional.

Genoino avaliou que a atual conjuntura internacional está marcada por dificuldades sucessivas para os Estados Unidos em diferentes frentes. Segundo ele, “a desestabilização na América Latina e em outras partes do mundo faz parte da estratégia do imperialismo americano que atravessa uma fase de declínio, uma fase de dificuldade”. O ex-deputado lembrou que, onde Washington tenta impor sua influência, surgem impasses, citando as relações com a Europa, a situação em Gaza e Cisjordânia e a “derrota que está se caracterizando, se confirmando na guerra da OTAN contra a Rússia, tendo a Ucrânia como ponta de lança”.

Nesse quadro, Genoino associou a ofensiva estadunidense à forma de atuar do trumpismo. Para ele, “a desestabilização faz parte da maneira como o trumpismo governa”, buscando impor uma “governabilidade caótica” na qual o líder precisa estar permanentemente no centro da cena. O entrevistado afirmou que esse movimento se baseia em uma “visão personalista, individual do super presidente para passar para os seus aliados”, e que essa lógica se expressa também na forma como se tenta redesenhar a correlação de forças na América Latina.

Ao tratar diretamente da região, Genoino foi categórico ao apontar o lugar que, em sua visão, o continente deve ocupar na agenda do Itamaraty. “Eu entendo que a questão da América Latina é o problema principal da política externa brasileira nesse momento”, afirmou, lembrando que o objetivo histórico defendido por setores progressistas no Brasil é que “no nosso continente a América do Sul fosse uma região de paz, a América Central uma região de paz”.

Ele defendeu a retomada e o fortalecimento de mecanismos de integração regional. Genoino ressaltou que “a América Central estabelecesse com a CELAC um processo de cooperação” e que o Brasil precisa buscar “com os Estados Unidos um outro patamar de luta, de enfrentamento e de negociação”, de forma a influenciar também a política interna norte-americana. Nesse sentido, ele insistiu que “não dá pra gente estabelecer tapete vermelho para o imperialismo” e que qualquer avanço depende de mobilização e correlação de forças: “Nós temos que celebrar as vitórias parciais que dependem da luta”.

O ex-presidente do PT chamou atenção para a centralidade da América Latina na disputa global por recursos e mercados. Ele lembrou que a Venezuela e a Colômbia compõem “uma região muito rica em petróleo, uma região fundamental em minérios raros e críticos”, além de um continente relevante “do ponto de vista comercial, do ponto de vista das relações de troca” e também “do ponto de vista do da potencial especialidade do mercado”. Na sua avaliação, as dificuldades dos Estados Unidos no Oriente Médio e na relação com a Rússia levam Washington a tentar “consolidar a política de América Latina como quintal dos Estados Unidos, inclusive com a influência nefasta do Marco Rúbio”.

Genoino aproximou esse diagnóstico das análises do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, também citado na entrevista. Ele disse concordar com a leitura de que “se buscar desestabilizar a América Latina é tá dentro dessas eleições, por exemplo, do Chile, eleições que acabaram de acontecer na Bolívia, o processo eleitoral que nós vamos viver aqui daqui a um ano, 2026, quer dizer, são a crise do Equador”. Para o ex-deputado, a disputa institucional e eleitoral no continente está atravessada por essa tentativa de interferência externa, ainda que se manifeste por meio de mecanismos formais e narrativas internas a cada país.

Diante desse quadro, Genoino defendeu a construção de uma agenda comum entre os países latino-americanos. “Portanto, eu acho que nós temos que colocar na nossa pauta, no nosso projeto, a América Latina como uma região de paz, defender a autodeterminação dos povos, combater a intromissão nefasta do imperialismo americano, usando a Venezuela e a Colômbia como, vamos dizer assim, como ponta de lança para uma política agressiva”, disse. Para ele, o risco não está em conflitos originados dentro das sociedades latino-americanas, mas na intervenção externa: “O conflito aqui não é gerado nas relações do interior da América Latina. O conflito está sendo gerado pela intromissão imperialista dos Estados Unidos, na América Central e na América do Sul”.

Ao longo da entrevista, Genoino insistiu que a resposta passa por reforçar a integração regional, a cooperação política e econômica e a defesa da soberania em cada país. Em sua visão, tratar a América Latina como região de paz e de autodeterminação é condição para que o Brasil e seus vizinhos enfrentem as pressões externas e redefinam, em conjunto, o lugar do continente na ordem internacional. Assista: 

 

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