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“A China transforma ideias em realidade cotidiana muito rapidamente”, diz Elias Jabbour

O professor de economia destaca como o modelo chinês acelera avanços em energia, IA e bem-estar social

Elias Jabbour (Foto: Reprodução/YouTube/Podcast 3 irmãos)

247 - A China vem sendo cada vez mais descrita como um país “cool” por observadores internacionais, expressão que sintetiza a rapidez com que ideias se transformam em soluções concretas no cotidiano da população. Inovação tecnológica, planejamento estatal e aplicação em larga escala aparecem como marcas centrais desse processo, que tem reposicionado o país no centro do debate global sobre desenvolvimento, sustentabilidade e futuro da humanidade.

A avaliação foi feita pelo economista Elias Khalil Jabbour, professor associado da Faculdade de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em entrevista ao jornal Global Times, da China, publicada como parte da série especial de fim de ano “What makes China cool”, dedicada a analisar os fatores que ampliam a atratividade chinesa no cenário internacional.

Ao ser questionado sobre quais inovações chinesas mais chamaram sua atenção em 2025, Jabbour afirmou que o país consolidou avanços em áreas estratégicas como inteligência artificial, robótica, biotecnologia, mobilidade inteligente, energias renováveis e tecnologia espacial. Para ele, no entanto, um marco se destaca. “A inovação tecnológica mais importante foi a apresentação do ‘sol artificial’, dadas as imensas possibilidades que essa inovação pode oferecer à humanidade: energia limpa e virtualmente infinita”, disse.

O economista também ressaltou o uso prático da inteligência artificial no sistema de saúde. “Outro exemplo foi a implantação de sistemas de diagnóstico baseados em IA em clínicas comunitárias e hospitais de bairro em áreas urbanas. Isso significa que a China está se preparando rapidamente para a construção de um Estado de bem-estar social com características chinesas”, afirmou, contrastando com o cenário ocidental, onde, segundo ele, direitos sociais vêm sendo constantemente atacados.

Na comparação entre modelos de inovação, Jabbour destacou diferenças estruturais profundas. “O Ocidente é caracterizado pela financeirização como forma histórica dominante de geração de riqueza, resultando em perda de capacidade inovadora e competitividade, além do crescimento do ‘keynesianismo militar’”, explicou. Já no caso chinês, segundo ele, “o estilo chinês é caracterizado pela predominância do setor público tanto na produção quanto nas finanças”, o que confere vantagem frente aos efeitos destrutivos da financeirização.

Essa estrutura também explica a capacidade chinesa de escalar rapidamente novas tecnologias. “Em termos gerais, o sistema socialista é o principal fator responsável pela capacidade de transição do laboratório para a difusão generalizada das inovações tecnológicas”, afirmou Jabbour. Ele acrescentou que, diferentemente do capitalismo, a China não espera que o mercado “descubra” as tecnologias. “Ela cria deliberadamente mercados”, disse, citando compras governamentais em larga escala, metas de adoção e investimentos prévios em infraestrutura.

Sobre a contribuição chinesa para desafios globais como mudanças climáticas, saúde pública e ética da IA, o professor destacou soluções já testadas em grande escala. “As contribuições mais valiosas da China não são slogans ou modelos ideológicos, mas soluções operacionais que já foram testadas”, afirmou. Segundo ele, a produção em larga escala permitiu reduções globais de 70% a 90% nos custos de tecnologias limpas, tornando a ação climática viável para países em desenvolvimento.

O protagonismo chinês, na avaliação de Jabbour, deve se manter especialmente na transição energética. “Não há dúvida de que a China manterá sua liderança nos setores relacionados à transição energética e continuará a exercer uma influência positiva no desenvolvimento global”, disse. Ele também destacou o uso da inteligência artificial voltado ao bem-estar humano, e não a fins militares, como um marco civilizatório.

Para países emergentes como o Brasil, Jabbour apontou lições centrais no papel do sistema financeiro público. “Um aspecto-chave é o papel do sistema financeiro público em fornecer financiamento rápido, barato e em grande escala para grandes projetos de inovação”, afirmou, citando iniciativas como o Made in China 2025. Segundo ele, “trilhões de dólares são investidos anualmente pela China na busca da fronteira tecnológica, algo possível porque seu sistema financeiro é público e não privado”.

Ao resumir por que a China inovadora de hoje pode ser considerada “cool”, Jabbour destacou o impacto social das transformações. “Na prática, a China de hoje é ‘cool’ porque transforma ideias em realidade cotidiana muito rapidamente”, afirmou. Ele concluiu ressaltando que “coisas que, em muitos países, permanecem como promessas — energia limpa, trens de alta velocidade, ônibus elétricos, serviços públicos digitais — já estão funcionando na escala de cidades inteiras na China”, mudando de forma concreta o funcionamento da sociedade.

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