China inaugura nova etapa de cooperação estratégica com a América Latina
Documento do governo chinês projeta aprofundamento das relações e amplia agenda conjunta na América Latina e Caribe
247 - O governo chinês apresentou nesta quarta-feira (10), seu novo Documento de Política para a América Latina e o Caribe (ALC), marco atualizado após nove anos e que redefine as diretrizes da parceria entre a China e os países da região. O texto detalha a visão estratégica de Pequim para as próximas etapas dessa relação.
Editorial do jornal Global Times destaca que este é o terceiro documento do gênero, após as edições de 2008 e 2016, consolidando uma estrutura de cooperação em constante evolução. Segundo a publicação, o texto reflete o fortalecimento dos vínculos China-ALC e a projeção de um futuro compartilhado do país socialista asiático com a região.
O documento funciona como uma ampla “lista de verificação de cooperação”, abrangendo desde projetos de infraestrutura essenciais até iniciativas culturais, científicas e tecnológicas. Entre os pontos centrais apresentados está a proposta feita pelo presidente Xi Jinping em maio, quando convocou a região a desenvolver conjuntamente cinco programas: solidariedade, desenvolvimento, civilização, paz e conectividade interpessoal. Esses eixos formam o núcleo conceitual do novo plano.
A política chinesa para a ALC descreve a relação como um compromisso de “avançar de mãos dadas como uma comunidade com um futuro compartilhado” e como “um exemplo brilhante de cooperação Sul-Sul”. A partir desses fundamentos, o texto projeta uma modernização abrangente da parceria, que inclui a integração de cadeias produtivas, o estímulo à inovação científica conjunta e a ampliação do acesso da população aos benefícios dessa cooperação.
Entre as ações mencionadas estão: alinhamento da capacidade produtiva chinesa às necessidades latino-americanas; desenvolvimento de tecnologia agrícola moderna; cooperação na recuperação de relíquias culturais; e participação de cientistas da região em expedições polares a bordo de navios de pesquisa chineses. O plano também prevê incentivos a programas educacionais, de saúde e de intercâmbio cultural.
O editorial do Global Times destaca ainda que pesquisas recentes no Reino Unido indicam avanço significativo na percepção positiva sobre a China na América Latina. Exemplos práticos dessa aproximação incluem a abertura de voos diretos entre China e Argentina, o crescimento de 5,35 bilhões de yuans no comércio bilateral, impulsionado pela rota marítima Chancay-Xangai, e o aumento do interesse cultural favorecido pela política de trânsito chinês de 240 horas sem visto para diversos países da região.
Com base na visão de desenvolvimento compartilhado, o texto afirma que as relações China-ALC ganham solidez a partir de trocas culturais e de um crescente sentimento de confiança mútua. A interação entre duas civilizações antigas, aponta o editorial, amplia o potencial de cooperação e reforça um compromisso conjunto com a paz, o multilateralismo e a reforma da governança global.
O documento também ressalta o apoio recebido pelas Iniciativas de Desenvolvimento Global, de Segurança Global, de Civilização Global e de Governança Global, promovidas pela China e acolhidas por países latino-americanos por sua convergência com prioridades regionais. Um exemplo recente mencionado é a criação do Grupo de Amigos da Governança Global, lançado na sede da ONU com participação ativa de países da ALC. O representante permanente de Cuba afirmou que “se quisermos construir uma comunidade de futuro compartilhado, precisamos de uma iniciativa como esta”.
Segundo o editorial, a cooperação China-ALC se projeta para além do aspecto bilateral, convertendo-se em força positiva para a estabilidade e o desenvolvimento global. Em meio a críticas internacionais que tratam o avanço dessas relações como disputa geopolítica, o documento enfatiza que a parceria “não visa nem exclui nenhuma terceira parte, nem é subjugada por nenhuma terceira parte”. O texto também critica políticas inspiradas na “nova Doutrina Monroe”, afirmando que alguns países exercem pressão militar e econômica sobre a região, enquanto a China a trata como “verdadeira amiga”.
Com base em igualdade, respeito e benefícios mútuos, o documento é apresentado como um marco das relações China-ALC, reforçando a continuidade de uma amizade que atravessa décadas. Da Iniciativa Cinturão e Rota aos cinco programas anunciados por Xi Jinping, o editorial conclui que a cooperação segue alcançando novos patamares, impulsionada pelo contexto de transformações globais e pelo fortalecimento do Sul Global.




