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Moeda chinesa ganha espaço global por escolha pragmática, aponta Global Times

Editorial destaca que emissão de títulos russos em moeda chinesa reflete lógica de mercado e não disputa geopolítica

Dólar e Yuan (Foto: Xinhua)

247 – A crescente presença internacional do yuan volta ao centro do debate após o Ministério das Finanças da Rússia anunciar a emissão, pela primeira vez, de títulos soberanos lastreados na moeda chinesa, com início das inscrições em 2 de dezembro. A análise foi publicada pelo jornal Global Times, que critica a tentativa de setores do Ocidente de enquadrar a decisão como parte de um suposto jogo de “confronto geopolítico”.

Segundo o editorial do veículo chinês, creditado como fonte original desta matéria, a operação russa — considerada corriqueira do ponto de vista financeiro — vem sendo artificialmente interpretada por algumas narrativas ocidentais como um movimento para “competir por influência global” ou “desafiar o sistema do dólar”. Para o Global Times, essa leitura distorcida parte da premissa de que a hegemonia do dólar seria intocável.

Yuan avança por demanda real, não por imposição

O editorial enfatiza que a internacionalização do yuan não decorre de uma iniciativa unilateral da China, mas de “lógica de mercado, reconfiguração do comércio global e escolhas racionais de diversos países”. A China, maior potência comercial do planeta e parceira de mais de 200 países e regiões, tem ampliado o uso de sua moeda em transações no exterior, especialmente em obras de infraestrutura, exportação de equipamentos de energia renovável e comércio eletrônico transfronteiriço.

Nesses casos, o uso do yuan reduz riscos cambiais e aumenta a eficiência das transações — fatores que, segundo o texto, estão por trás da adoção crescente da moeda chinesa em operações internacionais.

Crescimento consistente do yuan em reservas e emissões globais

O editorial destaca indicadores recentes que ajudam a explicar a decisão de Moscou. No quarto trimestre de 2024, cerca de US$ 247 bilhões em ativos globais de reservas internacionais estavam denominados em yuan. Mais de 80 bancos centrais e autoridades monetárias já incorporaram a moeda chinesa às suas reservas.

Países como Hungria, Emirados Árabes Unidos e Indonésia já haviam emitido títulos soberanos na moeda chinesa, e agora a Rússia se soma a esse grupo. A emissão de “Panda bonds” — títulos lançados por instituições estrangeiras dentro da China — também continua em expansão.

O yuan se tornou, em outubro de 2024, a segunda moeda mais utilizada no financiamento do comércio global, respondendo por 8,5% do volume total. O Global Times cita ainda reportagem da Bloomberg apontando que o movimento tende a se aprofundar. Segundo a publicação, o produtor estatal de petróleo do Cazaquistão lançou seu primeiro “dim sum bond”, enquanto o Quênia avalia converter parte de sua dívida em dólar para empréstimos em yuan. Eslovênia e Paquistão também sinalizaram intenção de captar recursos na moeda chinesa.

Mercado busca estabilidade diante da volatilidade do dólar

Para o editorial, o avanço do yuan é resultado direto da confiança do mercado, em um cenário de instabilidade provocada pelos Estados Unidos. O texto argumenta que Washington tem utilizado sanções financeiras como instrumento de pressão política, transformando mecanismos globais como o sistema SWIFT em ferramentas de coerção.

Diante da volatilidade dos juros nas principais economias desenvolvidas e dos riscos crescentes associados às dívidas soberanas, ativos em yuan passaram a oferecer retornos mais estáveis e menor volatilidade. O editorial resume assim o racional por trás da escolha de diversos investidores:

 “Alocar ativos em yuan não é apoiar nenhuma ideologia, mas otimizar portfólios, diversificar riscos e preservar valor.”

De hegemonia única a estrutura multicêntrica

O texto contextualiza que moedas só alcançam status internacional consolidado com base em décadas de crescimento econômico, credibilidade institucional e aceitação do mercado — como ocorreu com a libra esterlina e o dólar. Segundo o Global Times, o sistema financeiro global vive hoje uma transição estrutural, em que a dominância do dólar gradualmente dá lugar a uma arquitetura mais “multicêntrica”.

Nesse processo, o yuan avança apoiado na resiliência da economia chinesa, no tamanho de seu mercado interno e no aprofundamento da abertura financeira do país.

“Em um mundo mais complexo, ter uma moeda adicional estável é, por si só, um fator de estabilização, não de ruptura”, aponta o editorial.

China não busca hegemonia monetária

O Global Times ressalta ainda que a China adota uma postura “calma e prudente” em relação à internacionalização de sua moeda. O país insiste que o processo deve ser guiado pelo mercado e por decisões independentes dos participantes. A meta chinesa, diz o texto, não é estabelecer hegemonia, mas facilitar o uso do yuan em comércio, investimentos e cooperação financeira.

A conclusão do editorial sintetiza o argumento central:

“O yuan ganha espaço porque é uma escolha prática, não parte de uma confrontação. O mundo não precisa de mais conflitos — precisa de mais opções.”

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