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Pepe Escobar: "se a Europa decidir roubar os ativos russos, será o fim do euro"

Analista afirma que confisco aprofundaria a crise europeia, detonaria a credibilidade financeira do bloco e escancararia a lógica de guerra permanente

Pepe Escobar: "se a Europa decidir roubar os ativos russos, será o fim do euro" (Foto: Brasil247)

247 – A tentativa da União Europeia de confiscar ativos russos congelados foi duramente criticada pelo jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar em uma edição recente do Pepe Café, publicada em seu canal no YouTube. Segundo ele, a medida colocaria em risco a própria sobrevivência do euro como moeda internacional e aprofundaria o colapso geoeconômico do continente.

Gravado na Sicília, o programa apresenta uma análise extensa do impasse envolvendo os recursos russos mantidos principalmente na Euroclear, em Bruxelas. Escobar afirma que, diante dos alertas de banqueiros europeus, americanos e do próprio primeiro-ministro da Bélgica, Bruxelas foi obrigada a recuar, ao menos temporariamente, da ideia de confisco. “Se a Europa quiser finalmente se enterrar geoeconomicamente e enterrar o euro junto com ela, eles vão roubar os ativos russos”, disse o analista.

Retaliação russa e risco sistêmico

Escobar ressaltou que Moscou já deixou clara sua resposta caso os ativos sejam apropriados. “Se vocês roubarem a nossa grana, nós vamos confiscar tudo da União Europeia, de empresas da União Europeia que estão na Rússia”, afirmou. Segundo ele, os valores são praticamente equivalentes, o que levaria a perdas bilionárias para companhias europeias e agravaria a instabilidade financeira do bloco.

Na avaliação do jornalista, o confisco violaria um princípio básico do sistema financeiro internacional — a inviolabilidade das reservas soberanas — e desencadearia uma fuga de capitais, corroendo de forma irreversível a confiança no euro.

Bruxelas busca alternativas e transfere o custo à população

Diante da impossibilidade imediata de usar os ativos russos, Escobar afirmou que a União Europeia passou a discutir a criação de um fundo coletivo para continuar financiando a guerra na Ucrânia. “Ou seja, basicamente roubando dinheiro dos contribuintes europeus para continuar financiando a guerra eterna”, disse.

Para o analista, a mudança de estratégia não altera o essencial. “Do ponto de vista de Bruxelas, da OTAN e da União Europeia, a guerra contra a Rússia é, será e vai continuar a ser eterna”, afirmou, apontando que o conflito se tornou estrutural para as elites políticas e militares do bloco.

Europa subordinada e mudança de foco dos Estados Unidos

Escobar contextualizou o debate dentro de um cenário geopolítico mais amplo, marcado por uma mudança de prioridades estratégicas dos Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump. Ele citou a nova doutrina de segurança nacional americana, que prioriza o hemisfério ocidental e a contenção da China, enquanto a Europa permanece, segundo ele, em condição de vassalagem.

“A Europa como um todo foi reduzida a um estado lamentável de vassalos absolutos”, afirmou, ao descrever a incapacidade do continente de formular uma política externa soberana e independente de Washington.

Guerra prolongada e ausência de solução

O analista também destacou que a Rússia não demonstra qualquer ilusão quanto às intenções ocidentais e segue apostando em uma estratégia de longo prazo baseada em resultados no terreno. “Quem vence uma guerra dita os termos”, disse Escobar, ao afirmar que Moscou imporá suas condições quando considerar o conflito encerrado.

Segundo ele, não há perspectiva de resolução rápida, nem para a guerra na Ucrânia nem para a crise geopolítica mais ampla. “Nada do que está acontecendo hoje geopoliticamente tem uma resolução a curto ou médio prazo”, afirmou.

Crise social e empobrecimento europeu

Ao longo do Pepe Café, Escobar relacionou o debate sobre os ativos russos ao empobrecimento acelerado da Europa, em especial da Itália, que ele descreveu como um país de classe média em processo de erosão social. Para o analista, a submissão à OTAN, a perda de soberania econômica e decisões alinhadas à lógica de guerra têm efeitos diretos sobre a vida cotidiana da população europeia.

Na avaliação final, a impossibilidade de confiscar os ativos russos expõe os limites do poder europeu em um mundo em transição. “O paradigma mudou, mas o foco central é um caos que o império não consegue administrar”, concluiu, afirmando que a tentativa de roubo dos recursos russos seria não apenas ilegal, mas autodestrutiva para a própria Europa.

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