Estadão sai em defesa de Bolsonaro e defende prisão domiciliar
Editorial do jornal argumenta por tratamento especial ao ex-presidente, apesar da gravidade dos crimes pelos quais foi condenado
247 - Editorial publicado pelo Estado de S. Paulo nesta terça-feira (18) defende "tratamento especial" a Jair Bolsonaro (PL), condenado na Ação Penal 2.668 por tentativa de golpe de Estado e crimes relacionados. Ao tratar da fase final do processo, o jornal argumenta que o ex-presidente deveria cumprir pena em condições diferenciadas.
O acórdão do julgamento dos embargos confirma a manutenção da sentença de 27 anos e 3 meses de prisão, abrindo caminho para que o ministro Alexandre de Moraes determine, nos próximos dias, o local de cumprimento da pena. O Estadão sustenta que essa decisão deve levar em conta fatores que, na visão do jornal, ultrapassariam a condição de um réu comum.
O texto elenca quatro possibilidades para a prisão: o Complexo Penitenciário da Papuda, uma sala de Estado-Maior em unidade do Exército, uma cela especial na Polícia Federal ou prisão domiciliar. Embora reconheça que todas sejam juridicamente possíveis, o editorial inclina-se claramente à última alternativa, apresentando o argumento de que Bolsonaro não poderia ser tratado como qualquer outra pessoa condenada pela Justiça.
A justificativa central do Estadão gira em torno da saúde do ex-presidente, que teria fragilidades decorrentes das cirurgias realizadas desde 2018. Segundo o jornal, o sistema penitenciário brasileiro não teria condições de assegurar cuidados adequados, e a transferência à Papuda poderia gerar riscos imprevisíveis. Esse posicionamento contrasta com a realidade vivida por milhares de detentos que, como o próprio editorial admite, não recebem tratamento minimamente digno em estabelecimentos superlotados e precarizados.
O texto reconhece a contradição dos apoiadores de Bolsonaro — que por anos defenderam o endurecimento das condições carcerárias e agora se mostram preocupados com a Papuda — e adota a lógica de um regime mais brando para o ex-presidente, rejeitando a igualdade de tratamento.
O Estadão cita como precedentes as condições especiais oferecidas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que cumpriu 580 dias de prisão injusta em cela da Polícia Federal em Curitiba, e a prisão domiciliar de Fernando Collor de Mello, concedida por Moraes após comprovação de doenças graves. O editorial equipara Bolsonaro a esses casos, defendendo que a prisão domiciliar não representaria indulgência, mas adequação às circunstâncias.
Ao final, o jornal argumenta que a democracia não se fortaleceria com o que chama de “martírio” de Bolsonaro, sugerindo que o Supremo deve optar por uma decisão marcada por “magnanimidade”. A posição contrasta com o entendimento de amplos setores jurídicos de que a preservação do Estado de Direito depende exatamente da aplicação isonômica da lei, especialmente quando se trata de figuras que atentaram contra a ordem constitucional.



