Noblat questiona quando a direita largará a alça do caixão de Bolsonaro
Crise provocada pela violação da tornozeleira eletrônica reacende disputa interna na direita e expõe desgaste do bolsonarismo
247 – A mais recente crise envolvendo Jair Bolsonaro — agora por ter violado a tornozeleira eletrônica que o monitora — reacendeu o debate sobre até quando a direita brasileira permanecerá atrelada ao ex-presidente e ao seu círculo familiar. A análise foi publicada pelo jornalista Ricardo Noblat, no Metrópoles, que descreve o impacto do episódio na sucessão presidencial de 2026.
Segundo o texto, até pouco tempo a direita tinha dois nomes assumidamente bolsonaristas como possíveis candidatos: Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Agora, diz Noblat, resta “talvez só um”. Flávio segue politicamente chamuscado pela tentativa do pai de burlar a fiscalização judicial, enquanto Tarcísio “queimou-se mais do que Flávio” ao se antecipar em defesa de Bolsonaro, mesmo antes da divulgação do vídeo de confissão gravada.
O jornalista observa que “a um filho, tudo é permitido para salvar o pai”, mas o mesmo não se aplica a um político sem laços de parentesco. Nesse sentido, afirma que Tarcísio ultrapassou o limite ao se colocar repetidamente como defensor automático do ex-chefe e ex-companheiro de farda.
A disputa pelos votos da extrema direita
Noblat destaca que outros nomes da direita que ensaiam disputar a Presidência em 2026 não demonstram o mesmo grau de fidelidade pessoal a Bolsonaro. Ratinho Júnior (PSD-PR) não tem relação profunda com o ex-presidente; Ronaldo Caiado (União-GO) já rompeu publicamente com ele; e Romeu Zema (Novo-MG) é classificado como “apenas um oportunista”.
Apesar disso, lembra Noblat, quase todos já prometeram indultar Bolsonaro caso sejam eleitos, livrando-o da pena de 27 anos e três meses de prisão imposta por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta da democracia, organização criminosa e destruição de patrimônio público e tombado. Essas promessas, porém, não revelam admiração — apenas o desejo de herdar a base de votos criada pelo fundador da direita radical contemporânea no Brasil.
O peso simbólico do bolsonarismo
Para Noblat, a direita só se apresenta hoje com orgulho como “direita” porque Bolsonaro e setores militares enxergaram nele uma oportunidade de retornar ao poder sem recorrer à violência armada. O colunista afirma que o movimento conservador segue submetido à sombra do ex-presidente — uma condição explorada com entusiasmo pela esquerda, que considera o vínculo uma poderosa arma eleitoral.
Mesmo que dirigentes da direita busquem se descolar de Bolsonaro assim que ele for preso, adverte Noblat, o “adesivo de bolsonarista roxo” será afixado com estardalhaço em cada um de seus representantes. Tarcísio sabe disso, diz o texto, e Flávio demonstra disposição para o sacrifício em nome do pai.



